A interrelação entre as vivências de violência, as interseccionalidades da cor da pele e gênero e o adoecer ainda são pouco estudadas. Este estudo teve por objetivo relacionar a presença de violência, fatores sociodemográficos e a presença de doenças em um grupo de idosas moradoras em uma comunidade vulnerável da cidade de São Paulo. Para tanto, aplicou-se questionário sociodemográfico e de morbidade e a escala Vulnerability to Abuse Screening Scale, validada e adaptada para o Brasil, composta por 12 questões divididas em quatro domínios: vulnerabilidade, dependência, desânimo e coerção, a um grupo de 58 idosas pretas ou pardas moradoras na comunidade Heliópolis, São Paulo. A pesquisa foi realizada durante os meses de março a maio de 2023. Os dados foram consolidados e tratados, mediante regresso logística, pelo software Stata, versão 17.0, com nível de significância de 5%. Para o cálculo do odds ratio, considerou-se intervalo de confiança de 95%. A média de idade das idosas foi de 70,3 anos e estas se declararam predominantemente pardas, viúvas, com escolaridade até o fundamental incompleto e com compartilhamento de moradia com familiares. A média de doenças por idosa foi de 3,3 enfermidades, sendo a mais prevalente a hipertensão arterial. Quanto às associações estatisticamente significativas, notou-se que idosas pretas tenderam a negar 52% mais serem humilhadas ou insultadas por algum familiar quando comparadas às pardas, sugerindo maior normalização da violência. A chance de uma idosa ter medo de um familiar ou ter sido prejudicada por alguém próximo é maior quando mora sozinha. Idosas com hipertensão têm 3,53 mais chances de ter medo de um familiar, 34,5% das idosas sentem-se desgostosas com alguém da família e 41,4% sentem-se tristes ou sozinhas frequentemente. A violência intrafamiliar permeia a vida de algumas destas idosas, afetando não apenas sua vida, mas seu processo de adoecimento.