A PRECARIZAÇÃO E DESVALORIZAÇÃO DOCENTE NA SOCIEDADE BRASILEIRA Kamille Bittencourt Ferreira/ kamille.bittencourt@hotmail.com/ UFRRJ Maiara Graziele Rubim Lobato/ UFRRJ Eixo temático: Políticas Públicas e Identidade Docente Resumo O trabalho em docência deve ser amplamente discutido, tendo em vista o contexto político atual. Devemos nos ater que ser professor é um processo, uma construção, pois o sujeito só se torna docente através das suas práticas cotidianas e sua vivência no ambiente escolar. Ser educador é um grande desafio, visto que há fatores internos e externos que fazem com que os docentes estejam cada vez mais sobrecarregados e cansados de ir contra aquilo que os oprime. À vista disso, observamos a necessidade de refletir acerca desses problemas que enfrentamos no nosso ambiente de trabalho, o espaço escolar. A problemática em questão é que são inúmeros os critérios de avaliação que esse docente tem que cumprir, na maioria das vezes, dupla jornada de trabalho, enquanto profissional da educação. Percebe-se que é necessária uma preparação crítica sobre o ensino e o conteúdo a ser ministrado na sala de aula. Desta maneira, podemos dizer que o nosso maior objetivo é refletir a respeito da não valoração do docente e da precarização do trabalho nas instituições de ensino, levando em consideração políticas públicas e a forma de atuação dentro do espaço de ensino. No ambiente escolar, podemos observar que há três problemáticas em evidência na pesquisa que vem sendo realizada, primeiro é a precarização do lugar em que se leciona, segundo é a desvalorização profissional e o terceiro são as políticas públicas educacionais. Observamos cotidianamente que na profissão há a depreciação e trazemos como exemplo a geografia, que apesar de ter nascido dentro do ambiente escolar, a formação em licenciatura plena em geografia é vista como "inferior", pois é valorizado somente o curso de bacharelado. O docente em geografia trabalha na formação crítica e socioespacial do estudante, de acordo com Callai (2004) a geografia é uma ciência social que auxilia na formação do aluno cidadão, porém esse papel não fica somente a cargo da geografia, como também da escola num geral. No entanto a licenciatura "aparece como complementação do bacharelado, inferiorizada, marcada como curso de pouco prestígio, onde não há fundamentação científica" (FERREIRA, 2017, p.08). Pontuschka et al. (2007, p.91) corrobora essa afirmativa quando nos diz que "a licenciatura aparece numa situação de inferioridade, ou seja, o curso técnico-científico ganha maior importância, enquanto a licenciatura caracteriza-se como um curso complementar, secundário". Ou seja, a escolha do curso de licenciatura não é valorizada, porque a figura do professor-pesquisador não é reforçada dentro do nicho que estamos inseridos. A pesquisa deve ser fomentada no ambiente escolar, visto que de acordo com PONTUSCHKA et. al (2007) a visão do professor como mero transmissor de conhecimento ainda persiste, porque a pesquisa não é algo estimulado dentro do ambiente escolar, porém isso deve ser rompido, uma vez que há uma necessidade de que o docente faça pesquisa para a escola e por ele mesmo, pois ao se tornar um professor-pesquisador ele é capaz de "exercitar a sua capacidade de fazer opções relativas aos conteúdos e suas didáticas e promover sua capacidade de elaboração própria de novos tratamentos e metodologias no âmbito do ensino da disciplina (Pontuschka, op. cit., p.99). Além dessa inferiorização da própria formação docente, nós ainda enfrentamos a precarização desse trabalho. Essa insatisfação é algo institucional, imposta aos educadores, a partir de um sistema educacional pautado na otimização do tempo dos recursos utilizados e o modo como o Estado gerencia educação. Segundo LAMOSA & MACEDO (2015), essas novas práticas de gestão escolar produzem regulações empresariais na educação e exigem uma eficácia sobre o trabalho prestado. É possível observarmos que os modelos de gestão visam somente o capital e a otimização do mesmo e isso tem influenciado diretamente como o professor direciona suas aulas. Ainda de acordo com os autores supracitados, esse sistema é responsável pelo aumento da precarização, proletarização e desprofissionalização do trabalho docente. O Estado realiza avaliações que contribuem para essa precarização, visto que todos do campo educacional são avaliados, desde gestores até os pais dos alunos. Cada segmento é responsável por uma parte dessa avaliação. Os gestores são avaliados pela forma que administram a escola, se o quadro de professores está completo, se administram a verba destinada à escola de maneira correta, entre outros pontos. Os professores são avaliados por muitos critérios, os que podemos elencar são: frequência, execução correta do plano de curso, se as aulas lecionadas são atrativas, o cumprimento do currículo mínimo, entre outros. Os alunos são avaliados através das provas externas, pela capacidade da escola na recuperação dos mesmos e frequência. A cargo dos pais, a avaliação é realizada pela frequência nas reuniões escolares. A pesquisa encontra-se em andamento e está sendo desenvolvida em duas etapas. Na primeira etapa, utilizaremos autores que discorrem sobre os temas que serão abordados. Na segunda etapa, utilizaremos uma reflexão sobre os problemas que enfrentamos nas práticas e com um olhar sensível para a conjuntura do ensino público brasileiro. A partir das informações que iremos obter, buscaremos compreender, porque a profissão docente está sendo desvalorizada desde sua formação na universidade, até sua atuação nas escolas, devido às políticas públicas intrínsecas nesses ambientes, e como a sociedade enxerga essa profissão contribui para a forma como a educação é gerenciada pelos governantes e pelo corpo estudantil, esse olhar sobre os processos educacionais interfere nas práticas dentro das instituições de ensino e nas avaliações realizadas. Palavras-chave: docência, precarização, políticas públicas. Referências Callai, H. C. (2001). A geografia e a escola: muda a geografia? Muda o ensino. São Paulo: Terra Livre. FERREIRA, Kamille Bittencourt. A climatologia através do livro didático: uma análise do 6º e 7º ano do ensino fundamental II. Monografia (Graduação em Geografia) - Departamento de Geografia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - Instituto Multidisciplinar. Rio de Janeiro, p.78. 2017. LIBÂNEO, José Carlos. Didática: velhos e novos temas. [s.l]: Edição do Autor, 2002. p.5. MACEDO, Jussara Marques de. LAMOSA, Rodrigo. A regulação do trabalho docente no contexto da reforma gerencial da educação. Revista Contemporânea de Educação, vol. 10, n. 20, julho/dezembro de 2015. PONTUSCHKA, Nídia Nacib; CACETE, Núria Hanglei; PAGANELLI, Tomoko Iyda. Para Ensinar e Aprender Geografia. São Paulo: Cortez, 2007.