Resumo A palavra educação é polissêmica e por isso envolve diferentes significados, todavia esses muitos significados sempre aludem para a ideia de formação, perfil e capacidade que o sujeito apresenta ou não, em razão das suas experiências históricas e sociais (BRANDÃO, 2007). Para Libâneo (2010), quase sempre o processo educativo opera ao menos com três elementos: um sujeito que (re)inicia a ação educativa, um modo de atuação e um sujeito que será envolvido por esta ação educativa. Dessa forma, a educação pode apresentar as seguintes modalidades não estanque: formal, informal e não formal. Considerando o ensino como aquilo que leva à educação, podemos considerar que o ensino também pode apresentar essas modalidades, e para diferencia-las é necessário ser considerado, ao menos, três aspectos fundamentais: a intencionalidade, a sistematização e a institucionalização (LIBÂNEO, 2010). O ensino e a educação formais são intencionais quando ocorrem em razão da vontade dos sujeitos. São sistematizados quando seguem uma ordem, organização e composição. E são institucionalizados quando ocorrem por meio do trabalho de uma instituição legalmente credenciada (MARQUES; FREITAS, 2017). O ensino e a educação informais e não formais, até podem apresentar aspectos do ensino e educação formais, mas nunca os três juntos. O ensino e a educação informais estão relacionados com aquilo que o sujeito aprende ou ensina em razão, por exemplo, da sua família e contexto social, cultural, histórico e econômico. Para compreender o que podemos tomar por ensino e educação não formais, é viável considerar primeiramente os espaços em que estes podem ocorrer. Uma escola é um exemplo clássico de um ambiente formal de ensino e educação. Nesse ambiente há espaços físicos e materiais destinados ao uso sistematizado com o intuito de se alcançar uma determinada aprendizagem (MARANDINO, 2017). Por outro lado, o ambiente familiar é um legítimo local para o ensino e a educação informais (BRANDÃO, 2007). Todavia, aquilo que se ensina e se aprende em razão da convivência familiar pode acontecer também por meio de ambientes, materiais e métodos que foram, a princípio, pensados para o ensino formal, ou por meio de ambientes, materiais e métodos que não se classificam como educação formal e nem informal (GHANEM; TRILLA; VERCELLI, 2008). Um zoológico é um exemplo desses ambientes, materiais e métodos. Então, o ensino e a educação que se desenvolvem por influência desses espaços podem ser denominados ensino e educação não formais. Do mesmo modo como o ensino e a educação podem ser classificados em formais, informais e não formais, os espaços em que eles ocorrem, também podem receber essas denominações, e então veremos que, embora se perceba a possibilidade de classificar o ensino e a educação em diferentes modalidades, quando se pensa nos espaços, perceberemos que essas modalidades, quase sempre ocorrem por interação (MARQUE; FREITAS, 2017). Por exemplo, na atitude de um pai em levar seu filho a um zoológico, haverá interação entre o ensino e educação informal e não formal. A atitude desse pai leva à educação informal, e a aprendizagem que o zoológico proporciona a ambos, será educação não formal. Já na atitude de um professor de levar seus alunos a esse mesmo zoológico, teremos ai o ensino e a educação formal auxiliada pelos espaços de ensino e educação não formais. Segundo Gohn (2010), os espaços não formais podem ser classificados em duas categorias: institucionalizados e não institucionalizados. Zoológicos e planetários são exemplos de espaços não formais institucionalizados. Nesses espaços há sempre a presença de monitores que, por meio dos materiais e elementos ali presentes, fazem diferentes explicações/demonstrações com o intuito de contribuir com a aprendizagem dos visitantes sobre algo. Os espaços não formais não institucionalizados são espaços naturais, construídos ou modificados pela interferência do homem e não costumam ter monitores e tão pouco foram elaborados paras fins de ensino-aprendizagem. Porém, neles pode haver elementos úteis ao ensino e a educação formal, informal e não formal. Rios e praças são alguns exemplos desses espaços (GOHN, 2010). Considerando que os espaços não formais podem ser importantes facilitadores do ensino formal, este artigo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa de abordagem qualitativa, de objetivo exploratório e de procedimento classificado como levantamento, iniciada no segundo semestre de 2018, com o objetivo de conhecer o que vem sendo tomado como espaços não formais de ensino e educação nos eventos e periódicos que publicam trabalhos sobre pesquisa em educação em ciências. Em face desse objetivo, neste artigo se apresenta os resultados do estudo realizado nos artigos publicados no XI Encontro Nacional de Pesquisa em Educação em Ciências. Para a seleção desses artigos buscou-se a linha temática desse evento que trata sobre espaço, ensino e/ou educação não formal e foi encontrado 103 trabalhos nessa linha temática. Considerando que nem todos os artigos publicados nessa linha temática tem relação direta com o objetivo desta pesquisa, então para a seleção desses artigos buscou-se no título, depois nas palavras-chave e por último no resumo as seguintes palavras: espaço não formal, ensino não formal ou educação não formal. Com esse procedimento metodológico a pesquisa encontrou 44 artigos que, direta ou indiretamente, tratam sobre espaços não formais de ensino e educação. Constatou-se que a maioria desses artigos, 43%, foram escritos por 4 ou mais autores e que na sua maioria, 90%, foram produzidos pela universidade pública. Constatou-se que a maioria, 59% são produções da região sudeste do Brasil e que na sua maioria, 70,4%, são trabalhos nos quais não envolve a participação de professores da Educação Básica. Nos 44 artigos analisados, a pesquisa encontrou 55 citações de lugares que seus autores consideram como espaços não formais, e o museu é o espaço mais citado, com 17 citações, seguido dos Centros de Ciências, com 4 citações. A pesquisa constatou que há trabalhos que confundem ações educativas formais como sendo espaços não formais. Nesse caso, a pesquisa constatou que 15% desses trabalhos apresentam esse entendimento. Constatou-se também que a maioria dos artigos, 70,4%, informa de forma confusa e/ou superficial o que seus autores tomam como fatores que caracterizam um espaço não formal. Frente a esses resultados, considera-se necessário ampliar discussões para um maior entendimento sobre os espaços não formais de ensino e educação. Palavras-chave: educação, ensino, enpec, zoológico Referências BRANDÃO, C. R. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2007 GHANEM, E.; TRILLA, J.; VERCELLI, L. C. A. (Org.). Educação formal e não-formal: pontos e contrapontos. São Paulo: Summus, 2008. GOHN, M. . Educação não formal e o educador social: atuação no desenvolvimento de projetos sociais. São Paulo: Cortez, 2010. LIBÂNEO, J. C. Pedagogia e pedagogos, para quê? 12. ed. São Paulo: Cortez, 2010. MARANDINO, M. Faz sentido ainda propor a separação entre os termos educação formal, não formal e informal? Ciência & Educação, v. 23, n. 4, p. 811-816, 2017. MARQUE, J. B. V.; FREITAS, D. Fatores de caracterização da educação não formal: uma revisão da literatura. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 43, n. 43, n. 4, p. 1087-1110, out./dez., 2017. Disponível em: . Acesso em: 14 ago de 2018.