No Brasil, especialmente desde os anos 1990, as iniciativas no campo da formação docente se acentuam consideravelmente. De acordo com Silva (2007), no entanto, a centralidade conferida aos professores e à sua formação no contexto das políticas educacionais implantadas nos últimos anos é mais no sentido de garantir a expansão quantitativa da formação de professores do que de valorização do seu pensar, do seu sentir e de seus valores como aspectos importantes para se compreender os desafios de seu trabalho e, por conseguinte, para investir em condições que favoreçam sua melhoria e a qualidade do ensino. Dentre as diversas políticas que objetivam favorecer formação docente, destaca-se a formação ofertada aos professores da Educação Básica, através do Pacto Nacional Pela Alfabetização na Idade Certa (PNAIC), programa que visa cumprir a meta 5 do Plano Nacional da Educação (PNE). O estado do Ceará foi pioneiro em instituir um programa para "corrigir" os índices de alfabetização, através do programa Alfabetização na Idade Certa (PAIC). O PAIC objetiva, principalmente, ofertar aos municípios formação continuada aos professores do ensino fundamental e apoio a gestão escolar. O programa iniciou em 2007 tendo como meta principal a garantia da alfabetização dos alunos matriculados até o 2º ano do ensino fundamental. Em 2011 ampliou para o PAIC +5, abrangendo ações para o ensino de Matemática e estendendo as ações do programa até o 5º ano do ensino fundamental. Por fim, em 2015 houve a última ampliação, incluindo todo o ensino fundamental, passando a se chamar MAISPAIC. Considerando que o programa MAISPAIC atrela à formação recebida aos resultados dos alunos nas avaliações, surge a necessidade de ouvir os professores sobre essa situação. Nesse sentido, emergem algumas indagações: como os professores significam a formação recebida pelo MAISPAIC? A formação tem contribuído para a prática dos professores participantes? Assim, o presente trabalho tem por objetivo compreender como professores de 2º ano do Ensino Fundamental, da rede pública de Iguatu - CE, significam a formação recebida pelo MAISPAIC. A escolha por realizar a pesquisa junto aos professores do 2º ano se justifica em função da formação específica que é destinada ao docente desse ano de ensino, tendo em vista que no 2º ano os estudantes são submetidos a avaliação externa. Tal situação resulta em pressão e exigências ao professor, pois, muitas vezes, o sucesso ou insucesso na alfabetização dos alunos, é atribuído ao docente. A Educação e a formação de professores são proclamadas, no discurso político atual, como áreas estratégicas na promoção do desenvolvimento social de um mundo globalizado. Giroux (1997) já apregoava a ideia de que o apelo por mudança educacional aparece ao mesmo tempo como ameaça e desafio, tendo precedentes históricos. Neste sentido, exige-se que a escola prepare seus alunos para atuarem em consonância com a moderna tecnologia, ao mesmo tempo em que deve atender a um mercado de trabalho cada vez mais exigente e competitivo. Por outro lado, Fernandes (2000) assinala que a pressão para a mudança origina outras concepções de educação e formação, alterando o conceito de escola. Ante a pluralidade e a complexidade exigidas no fazer docente, são atribuídos "superpoderes" aos professores. Confere-se ao docente a responsabilidade de resolver problemas que deveriam ser trabalhados no âmbito da família ou do próprio Estado, como bem adverte Formosinho (2009). Nesse contexto, emergem elementos que fragilizam o modo dos professores se reconhecerem, repercutindo diretamente em sua atuação profissional. Consoante Contreras (2012), a intensificação do trabalho docente leva à desqualificação intelectual, à degradação das habilidades e das competências profissionais, uma vez que o trabalho do professor fica restrito às inúmeras tarefas que precisa realizar. Os discursos políticos, nos seus variados conteúdos, assinalam nessa direção. A investigação buscou apoiou numa perspectiva qualitativa, de caráter exploratório e ouviu duas professoras do 2º ano do Ensino Fundamental do município de Iguatu - CE. Para a coleta dos dados elaborou-se um roteiro de entrevista contendo 5 (cinco) perguntas. Buscando compreender como as professoras entrevistadas significam a formação recebida pelo MAISPAIC, emergiram de suas falas as categorias: "relação com a prática docente"; "diálogo com os pares" e "estratégias formativas". As categorias foram analisadas na interlocução com diferentes autores especialmente Antônio Nóvoa, Francisco Imbernón e Bernadeth Gatti. As falas das professoras entrevistadas evidenciam que a formação vivenciada no MAISPAIC tem se revelado importante em seus processos formativos, possibilitando elementos para enriquecer a prática docente, a partilha de saberes e o diálogo com os seus pares. As docentes enxergam as formações ofertadas como relevantes para o exercício da prática docente, ressaltando a oportunidade de conhecer e construir materiais didáticos diversificados. Também relatam que os encontros têm possibilitado a interação e a partilha entre os envolvidos, o que tem favorecido maior reconhecimento de si como pessoa e profissional, elementos que fortalecem a identidade docente. Ao se referirem a importância da formação para a prática docente, as professoras parecem entender que a prática está associada a atividades isoladas, nenhuma das entrevistas referiu-se a estudos que contribuíram para compreender os processos de aprendizagem de seus alunos. Também não foi mencionado, por nenhuma das docentes, espaço para reflexão sobre a atuação docente, dando a impressão, que a formação se constitui de ações eminentemente práticas, sem aprofundamento teórico. De um modo geral, as entrevistadas significam de maneira positiva, os momentos formativos vivenciados no MAISPAIC.