ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NO CLUBE DE CIÊNCIAS: QUANDO AS CRIANÇAS ESTÃO NA RODA DE CONVERSA DIALÓGICA Luciane Naiane Araujo Neto/ lucianenaiane@gmail.com/UFPA/IEMCI/GEPASEA Elizabeth Orofino Lucio/orofinolucio@ufpa.br/ UFPA/IEMCI/GEPASEA Resumo Este trabalho aborda experiências vivenciadas no Clube de Ciências da Universidade Federal do Pará - CCIUFPA - situado no Instituto de Educação Matemática e Científica - IEMCI com crianças do entorno da universidade. O objetivo do estudo é refletir sobre a inserção metodológica da roda de conversa como mecanismo de construção dialógica no processo de ensino e de aprendizagem da alfabetização científica. Para essa discussão, trouxemos como aporte teórico Motta (2009) e Smolka (2012). O ensino de ciências nas séries iniciais do Ensino Fundamental e nas instituições de Educação Infantil oscila entre uma preocupação mais disciplinar, voltada aos conteúdos e aos conceitos; e outra mais utilitária, voltada para a formação do cidadão (Krasilchik e Marandino, 2007). De acordo com essa última preocupação, o sujeito cientificamente alfabetizado deve ser capaz não só de identificar o vocabulário da ciência, como também de compreender conceitos e utilizá-los para enfrentar desafios e refletir sobre seu cotidiano (Krasilchik e Marandino, 2007). Delizoicov e Lorenzetti (2001) propõem uma alfabetização científica voltada à abordagem de conhecimentos científicos nas primeiras séries do Ensino Fundamental, como mais uma forma de auxiliar as crianças a lerem e compreenderem o universo. A alfabetização científica nas séries iniciais é definida pelos autores como o processo pelo qual a linguagem das ciências naturais adquire significados, constituindo-se um meio para a criança ampliar o seu universo de conhecimentos e de sua cultura. Os autores ressaltam ainda que a instituição escolar sozinha não dá conta de alfabetizar cientificamente e que para além de seus muros e grades existe uma série de espaços e meios que podem auxiliar na complexa tarefa de alfabetizar cientificamente. O Clube de Ciências da Universidade Federal do Pará é um dos espaços que realiza a alfabetização científica. No entanto uma problemática presente é: como efetivar a alfabetização científica de crianças que não sabem ler e escrever? Nesse contexto, a inserção da Roda de Conversa dialógica em eventos do CCIUFPA é momento singular de partilha, uma vez que pressupõe um exercício de escuta e de fala. A proposta focaliza a importância do discurso das crianças integrantes do Clube de Ciências da Universidade Federal do Pará, denominadas Sócios Mirins, e seu papel na construção dialógica da alfabetização científica. As atividades vivenciadas em um espaço não formal proporcionam à criança uma relação dialógica cujas crianças são atores de suas práticas, partindo da premissa de que o outro nos constitui enquanto sujeito e que a utilização da roda de conversa é um instrumento potente que fornece parâmetros de comunicação entre professores-alunos-conhecimento científico. Gerando assim, produção de textos orais e escritas espontâneas durante os encontros no clube, sendo tais escritas, repletas de sentido para as crianças, proporcionando o uso de diversos gêneros discursivos, incluindo o gênero fábula, o qual foi utilizado em atividades investigativas, durante os encontros (as narrativas foram escritas com os professores como escribas dos sócios mirins; deu-se durante o momento em que foram trabalhados os sentidos e após serem utilizados os sentidos estudados para descrever o que sentiam). A proposta era deixá-las livres para criar histórias relacionando estas com o que estava sendo feito em sala, em pequenos grupos de quatro a cinco alunos e os professores auxiliando como escribas, pois os professores entendem que o local dos encontros é um ambiente complexo em que diferentes pessoas, com diferentes experiências de vida, encontram-se e, faz-se necessário, que este professor como mediador das discursões proporcione a essas crianças a oportunidade de se debater sobre temas de diversas áreas do conhecimento, mostrando que elas podem participar deste debate durante a roda de conversa e que eles não estão em um ambiente que as discriminam, que as emudecem pelo simples fato de serem crianças; que neste espaço, professores e estudantes, aprendem e trocam informações e vivências; que possuem voz e que sua visão de mundo não é descartada, que o que a criança diz não é certo ou errado, é sua hipótese a ser testada, que o que ela faz, de igual modo, não é correto ou equivocado e apenas uma das formas de se chegar a determinado conhecimento e cada situação vivida dentro e/ou fora deste ambiente será utilizada para se chegar ao resultado esperado. Considerando que se buscou nesta escrita focar principalmente em como se tem configurado o momento da roda de conversa dialógico no processo de aprendizagem e desenvolvimento da criança, e para a criança, promovendo sempre esta interação professores-alunos-conhecimentos, permitindo-lhes a formação e transformação do ambiente através de sua expressão e manifestação, entendendo o quanto é importante essa troca de experiências através de atividades que tenham sentido para elas, fazendo-as se sentirem parte ativa no processo de aprendizagem. Esta vivência relatada ainda está em andamento; portanto, algumas atividades são apenas ponto de partida, assim como da mesma forma o caminhar, tanto dos professores que ainda estão em formação, assim como das crianças que ainda estão descobrindo e redescobrindo novos saberes e contribuindo com seus saberes já adquiridos ao longo de sua vida, em que estes conhecimentos cotidianos sempre são recebidos pelos professores e utilizados como aparatos para se discutir e se refletir e ir em busca do conhecimento científico. O estudo proporcionou ampliar nossos conhecimentos sobre a roda de conversa como prática pedagógica dialógica, possibilitando compreender que, através de um processo dialógico, entre professor e sócios mirins, novos conhecimentos pudessem ser construídos coletivamente. Assim, constata-se que a roda de conversa é um elemento imprescindível que deve ser explorado pelos professores, pela sua relevância e contribuições que proporciona às crianças e ao fazer docente. Além disso, constitui-se um alicerce para a construção do novo e um espaço que também revela potente prática para a alfabetização científica. Palavras-chave: Alfabetização Científica, Leitura, Escrita, Roda de Conversa. Referências CARVALHO, A. M. P. (Org.) et al. Ensino de Ciências por investigação: Condições para Implementação em Sala de Aula. São Paulo. Cengage Learning. 2018. DELIZOICOV, D.; LORENZETTI, L. Alfabetização científica no contexto das séries iniciais. In: Ensaio - Pesquisa em Educação em Ciências. Vol. 3 N. 1, junho, 2001. JACOBUCCI, D.F.C. Contribuições dos espaços não-formais de educação para a formação da cultura científica. In: Revista Em extensão, Uberlândia. Vol.7, 2008. Disponível em: http://www.seer.ufu.br/index.php/emextensao/article/viewFile/1675/1439Acesso em: 20/01/2018. MOTTA, F. Salada de crianças: a roda de conversa como prática dialógica. IX EDUCERE. PUCPR, 2009. SMOLKA, A. L. B. A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como processo discursivo. 13.ed. Cortez Editora. São Paulo, 2012.