A finalidade deste relato é compartilhar as vivências de um grupo de alunos do curso de Pedagogia que participam do Programa Residência Pedagógica CAPES/Governo Federal, convênio com Universidade Estadual de Maringá - Paraná. O Programa visa induzir o aperfeiçoamento da formação prática dos acadêmicos de licenciatura, o que significa levar o licenciado para a escola de educação básica para que vivencie a teoria no espaço de gestão do ensino e de aprendizagens. Os residentes do núcleo de Gestão Escolar do curso de Pedagogia, na fase de preparação para a residência, foram desafiados a desenvolver uma atividade cultural como forma de ampliar o acervo intelectual, explorando a capacidade de busca, análise e reflexões de produções culturais. A atividade foi proposta para ser realizada em grupo no início de cada encontro semanal. O nosso grupo, de cinco residentes, escolheu a música como elemento cultural. A questão ética motivou-nos a explorar a canção "Que país é este" (1987) de Renato Russo, interpretado pela banda de rock Legião Urbana. A pesquisa desenvolvida em torno da música para formular o problema e fundamentar o conteúdo no contexto histórico levou-nos a outra música da banda, "Pais e Filhos" (1989), que trouxe elementos para refletir sobre um tema silenciado nas escolas: o suicídio. Por coincidência, o mês era setembro: "setembro amarelo". Considerando que a residência em gestão escolar, extrapola as atividades de docência abrangendo todos os aspectos de organização da escola que interfiram nas condições de ensino e de aprendizagem, observamos que esta era uma questão relacionada à saúde do estudante. Debruçamo-nos primeiro em compreender a questão da saúde em educação. Em levantamento encontramos dez produções sobre a temática: oito eram artigos, um apenas resumo de tese e uma tese de doutorado. Ao analisar os artigos com outros materiais relacionados com a gestão escolar, percebemos que as relações entre gestão, ensino-aprendizagem e Educação em Saúde se mostram de forma bem complexa e, até onde foi possível observarmos, é pouco estudada. Compreendemos que os gestores (diretor e coordenador), responsáveis pela organização do trabalho pedagógico, necessitam ampla visão que os possibilitem lidar com as adversidades que possam ocorrer na escola relacionada à saúde do escolar. Diante do direito da educação básica a todas as crianças e adolescentes de quatro aos dezessete anos, entendemos que a escola não pode eximir-se também do que consideramos seu papel ativo no desenvolvimento mental/emocional de seus alunos. O papel dos gestores por sua responsabilidade em relação à organização da escola, ao atendimento ao aluno, ao acolhimento da família, à orientação aos professores e funcionários pode intervir de maneira direta na proposição de ações pedagógicas relacionadas à Educação em Saúde. Debruçamo-nos, desta vez, em levantamento de dados e informações sobre o tema "suicídio". Em contato com o setor de epidemiologias, da Diretoria de Vigilância em Saúde da Secretaria Municipal de Saúde do município conseguimos dados sobre o número de suicídio no município. As informações chocaram a cada um dos membros do grupo. Foram registrados 27 suicídios na região em 2018 e 484 tentativas de suicídios no ano anterior até o momento presente (de 15/06/2018). Walter Tele, jornalista do Maringá Post (jornal disponível na web) também com base nos dados da Vigilância em Saúde relata que em "[...] 23 de maio último, com 143 dias transcorridos no ano [2018], haviam sido notificados 200 tentativas de acabar com a própria vida e 12 suicídios" (TELE, 15/06/2018). Tem, ainda, alta incidência de lesões autoprovocadas. Ao considerar que as notificações nem sempre são realizadas, os números podem ser dez vezes maiores. Diante dos fatos, acreditamos que se fazia necessário romper com o silêncio na escola em torno da temática do "suicídio" e desenvolvemos um trabalho que foi apresentado aos colegas residentes e preceptoras num dos encontros de formação. O estudo contemplou, ainda, as principais causas entre os jovens do suicídio, como ajudar a pessoa que está com problemas que envolvem a depressão, o bullying ou problemas familiares e sociais. Foram utilizados pequenos textos de grandes educadores como Anísio Teixeira (1962) que chama a atenção para a necessidade de cooperação e solidariedade em uma escola democrática em ascensão; poemas como "Esperança" de Mário Quintana que incentivam a reflexão e contribuem com o entendimento e a esperança diante desse problema que envolve a saúde dos estudantes, no atual contexto social. A provocação que envolvia a importância do trabalho dos gestores em relação a Educação em Saúde, chegou até uma das escola que recebem residentes. O nosso grupo foi convidado a levar a temática para ser abordada com estudantes do ensino médio. Foi realizado mais um planejamento em nova estrutura didática para desenvolver o trabalho com os jovens adolescentes. Até o momento foram realizadas duas atividades com grupos de alunos do ensino médio e há convite para trabalhar com mais cinco grupos de jovens na escola onde está sendo realizada a residência pedagógica. Desse primeiro trabalho, ao final de cada encontro foi solicitado para os alunos expressarem por escrito angústias, medos ou outra questão que consideravam relevante sobre a temática abordada. O resultado revela que esse problema circula de forma "visível" nos corredores, nas salas de aulas, enfim, está presente no dia-a-dia da escola não só entre os estudantes, mas entre os docentes e funcionários. Entretanto, cabe ainda um aprofundamento e análise que está sendo planejado para as próximas inserções dos residentes na prática da gestão da escola. Esta temática provocou muitas questões relacionadas à nossa formação como pedagogo-gestor que suscitam estudo e reflexão. Uma delas que tem nos acompanhados é: de que forma o pedagogo gestor pode intervir na questão da Educação em Saúde sem perder de vista o foco no processo pedagógico do ensino-aprendizagem? Por fim, entendemos que a atividade desenvolvida por nós, residentes do núcleo de Gestão Escolar do curso de Pedagogia da UEM/PR envolveu problematização da realidade e pesquisa, elaboração de projeto e planejamento de ensino, ousadia e criatividade, estudo e reflexão unindo teoria, prática e profissionalização. Hoje nos sentimos bem mais próximos da nossa função como pedagogo gestor na escola de educação básica e acreditamos que há um espaço possível de intervenção na formação dos que frequentam a escola e as suas famílias. Palavras-chave: Residência Pedagógica, Educação em Saúde, Gestão Escolar, Ensino-Aprendizagem, Suicídio. Referências BIOGRAFIAS Legião Urbana. Legião Urbana, 2014. Disponível em: Acesso em: 10 de out. de 2018. TEIXEIRA, Anísio. Notas para a história da educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.37, n.85, jan./mar. 1962. p.181-188. TELE, Walter. Epidemiologia registrou 27 suicídios em Maringá e 484 tentativas no ano passado. Números são recordes, mas podem ser dez vezes maiores. É preciso falar sobre o assunto. Maringá Post, Maringá, Paraná, 15/06/2018. https://maringapost.com.br/cidade/2018/06/15/epidemiologia-registrou-27-suicidios-em-maringa-e-484-tentativas-no-ano-passado-numeros-que-sao-recordes-mas-podem-ser-dez-vezes-maiores-e-preciso-falar-sobre-o-assunto/.