Professor Pesquisador: a formação de professores reflexivos e o estágio enquanto campo de pesquisa Estelany Silveira Soares. esteclec@hotmail.com Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Maria Eduarda Freitas Silva. freitasunilab@gmail.com Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira Eixo Temático: Políticas educacionais, avaliação e Currículo - com ênfase nas novas demandas curriculares para a formação de professores e para a docência no cotidiano das escolas de educação básica. Agência Financiadora: Capes Resumo O trabalho aqui descrito trata da articulação entre teoria e prática na formação de professores, no estágio supervisionado do curso de licenciatura em Sociologia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira-Unilab. Partindo da realização de pesquisas em seus campos de estágio e da ampliação da prática da pesquisa na condução da atividade docente, produzindo conhecimento a partir de seus próprios campos de atuação e tendo em vista a otimização das práticas pedagógicas e a aplicabilidade em contextos específicos. O objetivo desse trabalho consiste em apontar o rompimento da posição dicotômica que o estágio curricular supervisionado e as demais atividades da prática docente são postos nos cursos de licenciatura através da dissociação entre teoria e prática, é uma perspectiva cada dia mais concreta nos cursos de formação de professores, especialmente na Unilab, onde se promove de maneira consciente, contextualizada e referenciada a interlocução entre teoria e prática materializada na forma de pesquisas. Diversos teóricos entre eles Pimenta e Lima (2005) já nos apresentam que nesse sentido "enquanto campo de conhecimento, o estágio se produz na interação dos cursos de formação com o campo social no qual se desenvolvem as práticas educativas. Nesse sentido, o estágio poderá se constituir em atividade de pesquisa." A pesquisa permite essa integração entre teoria e prática na medida em que apresenta o campo do estágio não apenas como modelo para observação e intervenções reprodutivistas, mas sim como espaço de investigação, reflexão e crítica de todos os atores envolvidos nos processos educacionais. A realização da pesquisa no campo de estágio tem implicações no desenvolvimento das habilidades docentes no sentido de permitir uma melhor compreensão da complexidade de eventos que circunscrevem os processos educacionais, tais como compreender que tipo de intervenções poderão ser efetivadas e em que momento e lugar elas poderão ocorrer. Pimenta e Lima (2005) indicam que "portanto, a habilidade que o professor deve desenvolver é a de saber lançar mão adequadamente das técnicas conforme as diversas e diferentes situações em que o ensino ocorre, o que necessariamente implica a criação de novas técnicas". Através das atividades investigativas se pretende que aconteça a interlocução entre as três dimensões essenciais na formação docente, que seria: interligar a teoria aprendida nas disciplinas (conhecimento), com as técnicas e práticas docentes adquiridas na observação e regência do estágio (habilidades) e com a reflexibilidade crítica adquirida pelo processo investigativo proporcionado pela imersão profunda nos campos do estágio (atitude). O que permitirá uma maior autonomia dos licenciandos, fomentando a apresentação de propostas e encaminhamentos coerentes e contextualizados aos desafios apresentados pelo sistema de ensino e seus atores. No que se refere ao trabalho docente, a reflexão na e sobre a prática possibilita que o educador reveja sua própria atuação e a necessidade de compreendermos a escola enquanto um campo de múltiplos atores em efervescência contínua de relações e dinâmicas, que são constantemente mutáveis. E esse campo ao se constituir nessa efervescência, implica no entendimento que os educadores não constituem-se enquanto público e sim enquanto participantes, eles constroem e são construídos dentro dessa dinâmica. O trabalho do educador não é simplesmente enquanto mero transmissor de conhecimentos, gestor e reprodutor das práticas didático-pedagógicas consagradas, ele tem por desafio entender, dialogar e interagir com os diversos contextos socioculturais presentes naquele espaço. A escola tornou-se mais abrangente não apenas no ponto de vista quantitativo, ela também alargou-se no ponto de vista da pluralidade de subjetividades, o que torna necessário aos educadores uma maior e melhor formação, de forma a compensar as defasagens do próprio sistema. A democratização dos processos de ensino-aprendizagem implica em uma constante auto-avaliação por parte dos educadores e na busca da qualificação das práticas pedagógicas, onde o ensinar e o aprender caminham juntos, lado a lado. Segundo Fávero, Tonieto e Roman (2013) "não podemos considerar a atividade prática do professor como uma atividade exclusiva e prioritariamente técnica, mas sim uma atividade reflexiva e artística que, em certas ocasiões, pode utilizar "algumas aplicações de caráter técnico". A figura do professor enquanto autoridade, detentor da verdade e do saber extinguiu-se hoje nos processos de facilitação da aprendizagem, torna-se cada vez mais necessário repensar as práticas, sempre a luz das teorias, trazendo a contextualização e a realidade pra dentro das suas leituras e incorporando a sala de aula ao mundo fora dela e vice versa. Olhar para dentro da escola sem esquecer o meio em que ela está inserida é parte desse processo, que é constantemente retroalimentado na medida em que a realidade da escola alimenta as teorias e as teorias alimentam a realidade na escola. De forma objetiva é preciso pensar qual o papel do educador, tendo em vista que ele está atuando diretamente na formação de seres humanos, enquanto formador de opiniões e desencadeador de processos em um ambiente repleto de desigualdades, contradições, incertezas e permeados pelos mais diferentes valores. É necessário atribuir um sentido a cada um de nossos atos, torná-lo passível de coerência, flexibilidade e entendimento, de forma que possamos conseguir intervir em todos os processos, de forma direta ou indireta, pois as escolas são um ambiente vivo e dinâmico e suas aspirações perpassam os seus muros. A escola e o ensino médio consistem em um campo que tenciona as mais variadas lutas simbólicas e onde se exprimem relações de poder desde seu nível macrossociológico que compreendem as políticas curriculares e as relações hierárquicas que ali se estabelecem; até um nível micro sociológico em se tratando das relações de classe e de dominação de determinados capitais culturais, sociais e econômicos que se estabelecem sobre o chão das salas de aula. Concluímos que o exercício da docência e a interlocução com a prática da pesquisa é de fundamental importância para o exercício da Sociologia enquanto licenciatura, o papel do educador em Sociologia em si mesmo já reflete a necessidade do engajamento e do compromisso em promover a criticidades e o posicionamento enquanto sujeito social, esse exercício só será fielmente implantado através do conhecimento empírico adquirido cientificamente. Palavras-chave: estágio, pesquisa, professor-reflexivo. Referências FÁVERO, Altair Alberto; TONIETO, Carina; ROMAN, Marisa Fátima. A formação de Professores Reflexivos: a docência como objeto de investigação. Educação, [s.l.], v. 38, n. 2, p.277-287, 20 jun. 2013. Universidad Federal de Santa Maria. http://dx.doi.org/10.5902/198464445483. PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria Socorro Lucena. Estágio e docência: diferentes concepções. Revista Poíesis, Rio de Janeiro, v. 3, n. 34, p.5-24, 2005. SILVA, Monica Ribeiro da. Currículo, ensino médio e BNCC: Um cenário de disputas. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 9, n. 17, p.367-379, jul. 2015. PEREIRA, Thiago Ingrassia. Disputas curriculares: o que ensinar de sociologia no ensino médio? Ciências Sociais Unisinos, [s.l.], v. 51, n. 3, p.261-267, 4 nov. 2015. UNISINOS - Universidade do Vale do Rio Dos Sinos. http://dx.doi.org/10.4013/csu.2015.51.3.03.