Artigo Anais do XVI Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia

ANAIS de Evento

ISSN: 2175-8875

DEVOÇÃO E IDENTIDADE: A FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL DE LARANJÃO

Palavra-chaves: , , , , Comunicação Oral GT 55: GEOGRAFIA CULTURAL: RELIGIOSIDADE, GÊNERO E CIBERESPAÇO
"2025-11-28" // app/Providers/../Base/Publico/Artigo/resources/show_includes/info_artigo.blade.php
App\Base\Administrativo\Model\Artigo {#1845 // app/Providers/../Base/Publico/Artigo/resources/show_includes/info_artigo.blade.php
  #connection: "mysql"
  +table: "artigo"
  #primaryKey: "id"
  #keyType: "int"
  +incrementing: true
  #with: []
  #withCount: []
  +preventsLazyLoading: false
  #perPage: 15
  +exists: true
  +wasRecentlyCreated: false
  #escapeWhenCastingToString: false
  #attributes: array:35 [
    "id" => 124265
    "edicao_id" => 436
    "trabalho_id" => 461
    "inscrito_id" => 204
    "titulo" => "DEVOÇÃO E IDENTIDADE: A FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL DE LARANJÃO"
    "resumo" => "Toda festa representa um tempo e espaço singulares. Mais especificamente, ela marca um momento de ação coletiva, reunindo esforço e alegria em uma mesma ocasião. Em geral, a vivência da festa revela a força de um grupo social unido. As manifestações religiosas sempre despenharam um papel fundamental na construção simbólica dos territórios e na configuração das identidades coletivas. Neste contexto, falaremos sobre a Festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada anualmente no mês de outubro, na comunidade rural de Laranjão, localizada no município de Glaucilândia, norte de Minas Gerais. A festa em homenagem à padroeira Nossa Senhora Aparecida configura como o evento mais importante para os moradores locais, realizada há mais de 60 anos, sendo um momento de encontro das famílias, de comercializações, cavalgadas, celebração e reafirmação dos laços comunitários. A justificativa para este estudo reside na necessidade de valorizar e compreender as práticas culturais e religiosas que estruturam a vida social em comunidades rurais, muitas vezes invisíveis pelos discursos urbanos e hegemônicos sobre o território. Como afirma Santos (2006), o espaço é um produto social, carregado de intencionalidades e práticas que refletem o modo como os grupos se organizam e resistem. É perceber o Lugar e investigá-lo, é realizar alguns apontamentos sobre a importância do Lugar como substância/matéria invisível capaz de fornecer subsídios ao homem para que esse possa construir e se sentir. Nesse sentido, Tuan (1983) destaca que “o espaço se torna lugar à medida que é vivido e carregado de significados afetivos”. A Festa de Nossa Senhora Aparecida contribui significativamente para a construção da identidade coletiva dos moradores da comunidade de Laranjão ao reforçar vínculos históricos, culturais e religiosos que conectam os indivíduos à sua comunidade e ao território que ocupam. Ao reunir diferentes gerações em torno de práticas tradicionais, a festa fortalece o sentimento de pertencimento e dá continuidade a valores compartilhados, consolidando a memória e a fé como elementos fundadores da identidade local. Ao manter viva a tradição, mesmo diante das transformações sociais e econômicas, a comunidade reafirma sua existência e protagonismo. Nesse processo, a memória coletiva assume um papel fundamental, pois ela sustenta a continuidade das práticas, transmite ensinamentos e experiências entre gerações e atualiza constantemente os significados atribuídos à festa, garantindo sua relevância enquanto expressão viva do patrimônio imaterial da comunidade. O objetivo deste artigo é analisar o papel da festa na manutenção das tradições culturais e religiosas locais; investigar como a celebração contribui para a coesão social e para o fortalecimento da identidade coletiva; e refletir sobre os impactos sociais e econômicos gerados pela realização do evento no contexto da comunidade rural, considerando suas relações com o território e com os processos históricos de resistência cultural. A comunidade de Laranjão é uma localidade remanescente de quilombola composta, majoritariamente, por famílias agricultoras. Seus primeiros habitantes formaram-se a partir de descendentes de populações negras que ocuparam a região, mantendo tradições e práticas culturais ligadas à ancestralidade quilombola. Segundo Arruti (2006), as comunidades quilombolas são expressões de resistência histórica e cultural das populações negras no Brasil, configurando-se como territórios de reprodução de saberes, práticas e vínculos identitários. Foi somente por volta da década de 1950 que chegou à comunidade as primeiras famílias não quilombola – a família Pereira da Cruz, Vieira e Cotas. A Família Pereira da Cruz foi a responsável por iniciar o processo de transformação no território, com a doação dos terrenos para a construção da igreja, da praça e da escola, além de introduzir as festividades marianas na localidade. A comunidade possui aproximadamente cinquenta famílias, que mantêm vínculos históricos, culturais e religiosos fortemente enraizados no território. Neste artigo, destacaremos duas importantes práticas religiosas da comunidade: a Festa de Nossa Senhora Aparecida e a Festa de São José. A Festa de Nossa Senhora Aparecida é realizada anualmente no 3º domingo de outubro, período consagrado à padroeira do Brasil no calendário católico. A organização do evento ocorre de forma colaborativa, envolvendo moradores da comunidade, lideranças locais, membros da igreja e devotos de comunidades vizinhas. A Festa de São José acontece no 2º domingo de maio, com novenas e leilões que antecedem o dia do Padroeiro. Essa prática coletiva fortalece os laços de solidariedade e pertencimento, consolidando-se como um marco no calendário cultural e religioso do município de Glaucilândia. Como observa Nascimento (2009), a religiosidade popular nas comunidades negras e quilombolas articula fé, identidade e resistência, funcionando como um eixo estruturante da vida comunitária. Segundo os moradores, a Festa de Nossa Senhora Aparecida acontece há aproximadamente 60 anos, e a Festa de São José há 30 anos. A moradora Maria de Fátima afirma que, a partir de 2023, a diocese trocou o padroeiro da comunidade para São José, ficando Nossa Senhora como co-padroeira. A realização da festa mobiliza diferentes espaços e instituições, como a comunidade religiosa, as associações comunitárias e grupos de moradores que colaboram na organização, decoração dos espaços, preparação dos alimentos, cavalgadas e execução das celebrações. Ao longo dos anos, a festa consolidou-se não apenas como uma expressão da devoção mariana, mas também como um importante instrumento de fortalecimento da identidade local, preservação das tradições culturais da região e geração de renda para os moradores, por meio da comercialização de produtos durante o evento. METODOLOGIA A realização deste estudo baseou-se em uma abordagem qualitativa, com procedimentos metodológicos pautados na observação participante durante os dias de preparação e realização da festa em 2024. Além disso, foram realizadas entrevistas informais com moradores, organizadores e frequentadores do evento, buscando captar percepções sobre a importância da celebração para a comunidade. Complementarmente, utilizou-se o registro fotográfico para documentação das práticas religiosas e culturais desenvolvidas. Também foi realizado um levantamento bibliográfico sobre as relações entre territorialidade, religiosidade e identidade cultural, tomando como referência autores como Rogério Haesbaert (2004), Paul Claval (2002) e Milton Santos (2006), bem como documentos locais que tratam da história da comunidade e de suas manifestações culturais. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise da Festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada na comunidade rural de Laranjão, evidencia a centralidade da religiosidade popular como elemento estruturante da vida social, cultural e simbólica em territórios marcados por tradições comunitárias e vínculos históricos. A festa, mais do que uma manifestação devocional, representa uma prática social complexa que articula memória, identidade e pertencimento, conforme argumenta Milton Santos (2006), ao afirmar que o espaço é indissociável das relações sociais que nele se produzem. Os dados obtidos por meio da observação participante e das entrevistas com moradores indicam que a festividade é vivida como um marco temporal e afetivo fundamental para a coletividade. A transmissão de saberes intergeracionais, visível nas práticas do “roubo” da bandeira, nas novenas, nas cavalgadas e na partilha de alimentos, revela o que Paul Claval (2002) descreve como o papel simbólico e emocional das festas na estruturação da vida social e cultural dos grupos humanos. A presença significativa de descendentes de quilombolas na comunidade confere à festa um caráter de resistência cultural, que reafirma a ancestralidade negra e o sentido de continuidade histórica do grupo. Rogério Haesbaert (2004), ao discutir o conceito de “multiterritorialidade”, ajuda a compreender como diferentes dimensões simbólicas se sobrepõem nesse contexto: o território da fé, da tradição, da memória e da luta por reconhecimento coexistem e se expressam na festa. Do ponto de vista econômico, a festa também assume papel estratégico na geração de renda local, por meio da comercialização de alimentos, produtos artesanais e realização de leilões. Essa dinâmica revela o que Santos (2006) chama de "uso do território por atores hegemônicos e contra-hegemônicos", uma vez que a comunidade ressignifica o uso do espaço festivo para além da fé, como forma de sustento e organização coletiva. Ainda que não institucionalizada como evento turístico, a festa apresenta traços que dialogam com o turismo cultural e religioso. Portanto, o estudo contribui para a valorização do patrimônio imaterial e para o reconhecimento das dinâmicas culturais presentes em comunidades rurais historicamente marginalizadas pelos discursos urbanos e hegemônicos. Analisar a festa é também um exercício de justiça espacial e de afirmação das múltiplas territorialidades que compõem o Brasil profundo. CONSIDERAÇÕES FINAIS As reflexões apresentadas ao longo deste artigo evidenciam que a Festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada na comunidade rural de Laranjão, em Glaucilândia/MG, ultrapassa o caráter exclusivamente religioso, assumindo papel central na construção da identidade coletiva, na preservação das memórias e no fortalecimento dos laços sociais entre os moradores. A festividade atua como um importante instrumento de resistência cultural, especialmente por se tratar de uma comunidade remanescente de quilombo, cuja história, tradições e práticas simbólicas ainda hoje são mantidas por meio das expressões de fé e devoção. A articulação entre memória, religiosidade e território permite compreender a festa como um elemento estruturante da vida comunitária, reafirmando pertencimentos, promovendo solidariedade e contribuindo para a valorização do patrimônio imaterial local. Assim, torna-se essencial reconhecer e registrar essas práticas, garantindo sua continuidade e fortalecendo políticas de preservação cultural voltadas às comunidades tradicionais."
    "modalidade" => "Comunicação Oral"
    "area_tematica" => "GT 55: GEOGRAFIA CULTURAL: RELIGIOSIDADE, GÊNERO E CIBERESPAÇO"
    "palavra_chave" => ", , , , "
    "idioma" => "Português"
    "arquivo" => "TRABALHO_COMPLETO_EV223_ID204_TB461_17092025130100.pdf"
    "created_at" => "2025-11-28 14:08:46"
    "updated_at" => null
    "ativo" => 1
    "autor_nome" => "WALQUÍRIA DA CRUZ ALMEIDA"
    "autor_nome_curto" => "WALQUÍRIA"
    "autor_email" => "wallcruzgeo@gmail.com"
    "autor_ies" => "UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES)"
    "autor_imagem" => ""
    "edicao_url" => "anais-do-xvi-encontro-nacional-de-pos-graduacao-e-pesquisa-em-geografia"
    "edicao_nome" => "Anais do XVI Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia"
    "edicao_evento" => "XVI Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia"
    "edicao_ano" => 2025
    "edicao_pasta" => "anais/enanpege/2025"
    "edicao_logo" => null
    "edicao_capa" => "692988483d31e_28112025083224.png"
    "data_publicacao" => "2025-11-28"
    "edicao_publicada_em" => "2025-11-27 15:13:16"
    "publicacao_id" => 79
    "publicacao_nome" => "Revista ENANPEGE"
    "publicacao_codigo" => "2175-8875"
    "tipo_codigo_id" => 1
    "tipo_codigo_nome" => "ISSN"
    "tipo_publicacao_id" => 1
    "tipo_publicacao_nome" => "ANAIS de Evento"
  ]
  #original: array:35 [
    "id" => 124265
    "edicao_id" => 436
    "trabalho_id" => 461
    "inscrito_id" => 204
    "titulo" => "DEVOÇÃO E IDENTIDADE: A FESTA DE NOSSA SENHORA APARECIDA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL DE LARANJÃO"
    "resumo" => "Toda festa representa um tempo e espaço singulares. Mais especificamente, ela marca um momento de ação coletiva, reunindo esforço e alegria em uma mesma ocasião. Em geral, a vivência da festa revela a força de um grupo social unido. As manifestações religiosas sempre despenharam um papel fundamental na construção simbólica dos territórios e na configuração das identidades coletivas. Neste contexto, falaremos sobre a Festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada anualmente no mês de outubro, na comunidade rural de Laranjão, localizada no município de Glaucilândia, norte de Minas Gerais. A festa em homenagem à padroeira Nossa Senhora Aparecida configura como o evento mais importante para os moradores locais, realizada há mais de 60 anos, sendo um momento de encontro das famílias, de comercializações, cavalgadas, celebração e reafirmação dos laços comunitários. A justificativa para este estudo reside na necessidade de valorizar e compreender as práticas culturais e religiosas que estruturam a vida social em comunidades rurais, muitas vezes invisíveis pelos discursos urbanos e hegemônicos sobre o território. Como afirma Santos (2006), o espaço é um produto social, carregado de intencionalidades e práticas que refletem o modo como os grupos se organizam e resistem. É perceber o Lugar e investigá-lo, é realizar alguns apontamentos sobre a importância do Lugar como substância/matéria invisível capaz de fornecer subsídios ao homem para que esse possa construir e se sentir. Nesse sentido, Tuan (1983) destaca que “o espaço se torna lugar à medida que é vivido e carregado de significados afetivos”. A Festa de Nossa Senhora Aparecida contribui significativamente para a construção da identidade coletiva dos moradores da comunidade de Laranjão ao reforçar vínculos históricos, culturais e religiosos que conectam os indivíduos à sua comunidade e ao território que ocupam. Ao reunir diferentes gerações em torno de práticas tradicionais, a festa fortalece o sentimento de pertencimento e dá continuidade a valores compartilhados, consolidando a memória e a fé como elementos fundadores da identidade local. Ao manter viva a tradição, mesmo diante das transformações sociais e econômicas, a comunidade reafirma sua existência e protagonismo. Nesse processo, a memória coletiva assume um papel fundamental, pois ela sustenta a continuidade das práticas, transmite ensinamentos e experiências entre gerações e atualiza constantemente os significados atribuídos à festa, garantindo sua relevância enquanto expressão viva do patrimônio imaterial da comunidade. O objetivo deste artigo é analisar o papel da festa na manutenção das tradições culturais e religiosas locais; investigar como a celebração contribui para a coesão social e para o fortalecimento da identidade coletiva; e refletir sobre os impactos sociais e econômicos gerados pela realização do evento no contexto da comunidade rural, considerando suas relações com o território e com os processos históricos de resistência cultural. A comunidade de Laranjão é uma localidade remanescente de quilombola composta, majoritariamente, por famílias agricultoras. Seus primeiros habitantes formaram-se a partir de descendentes de populações negras que ocuparam a região, mantendo tradições e práticas culturais ligadas à ancestralidade quilombola. Segundo Arruti (2006), as comunidades quilombolas são expressões de resistência histórica e cultural das populações negras no Brasil, configurando-se como territórios de reprodução de saberes, práticas e vínculos identitários. Foi somente por volta da década de 1950 que chegou à comunidade as primeiras famílias não quilombola – a família Pereira da Cruz, Vieira e Cotas. A Família Pereira da Cruz foi a responsável por iniciar o processo de transformação no território, com a doação dos terrenos para a construção da igreja, da praça e da escola, além de introduzir as festividades marianas na localidade. A comunidade possui aproximadamente cinquenta famílias, que mantêm vínculos históricos, culturais e religiosos fortemente enraizados no território. Neste artigo, destacaremos duas importantes práticas religiosas da comunidade: a Festa de Nossa Senhora Aparecida e a Festa de São José. A Festa de Nossa Senhora Aparecida é realizada anualmente no 3º domingo de outubro, período consagrado à padroeira do Brasil no calendário católico. A organização do evento ocorre de forma colaborativa, envolvendo moradores da comunidade, lideranças locais, membros da igreja e devotos de comunidades vizinhas. A Festa de São José acontece no 2º domingo de maio, com novenas e leilões que antecedem o dia do Padroeiro. Essa prática coletiva fortalece os laços de solidariedade e pertencimento, consolidando-se como um marco no calendário cultural e religioso do município de Glaucilândia. Como observa Nascimento (2009), a religiosidade popular nas comunidades negras e quilombolas articula fé, identidade e resistência, funcionando como um eixo estruturante da vida comunitária. Segundo os moradores, a Festa de Nossa Senhora Aparecida acontece há aproximadamente 60 anos, e a Festa de São José há 30 anos. A moradora Maria de Fátima afirma que, a partir de 2023, a diocese trocou o padroeiro da comunidade para São José, ficando Nossa Senhora como co-padroeira. A realização da festa mobiliza diferentes espaços e instituições, como a comunidade religiosa, as associações comunitárias e grupos de moradores que colaboram na organização, decoração dos espaços, preparação dos alimentos, cavalgadas e execução das celebrações. Ao longo dos anos, a festa consolidou-se não apenas como uma expressão da devoção mariana, mas também como um importante instrumento de fortalecimento da identidade local, preservação das tradições culturais da região e geração de renda para os moradores, por meio da comercialização de produtos durante o evento. METODOLOGIA A realização deste estudo baseou-se em uma abordagem qualitativa, com procedimentos metodológicos pautados na observação participante durante os dias de preparação e realização da festa em 2024. Além disso, foram realizadas entrevistas informais com moradores, organizadores e frequentadores do evento, buscando captar percepções sobre a importância da celebração para a comunidade. Complementarmente, utilizou-se o registro fotográfico para documentação das práticas religiosas e culturais desenvolvidas. Também foi realizado um levantamento bibliográfico sobre as relações entre territorialidade, religiosidade e identidade cultural, tomando como referência autores como Rogério Haesbaert (2004), Paul Claval (2002) e Milton Santos (2006), bem como documentos locais que tratam da história da comunidade e de suas manifestações culturais. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise da Festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada na comunidade rural de Laranjão, evidencia a centralidade da religiosidade popular como elemento estruturante da vida social, cultural e simbólica em territórios marcados por tradições comunitárias e vínculos históricos. A festa, mais do que uma manifestação devocional, representa uma prática social complexa que articula memória, identidade e pertencimento, conforme argumenta Milton Santos (2006), ao afirmar que o espaço é indissociável das relações sociais que nele se produzem. Os dados obtidos por meio da observação participante e das entrevistas com moradores indicam que a festividade é vivida como um marco temporal e afetivo fundamental para a coletividade. A transmissão de saberes intergeracionais, visível nas práticas do “roubo” da bandeira, nas novenas, nas cavalgadas e na partilha de alimentos, revela o que Paul Claval (2002) descreve como o papel simbólico e emocional das festas na estruturação da vida social e cultural dos grupos humanos. A presença significativa de descendentes de quilombolas na comunidade confere à festa um caráter de resistência cultural, que reafirma a ancestralidade negra e o sentido de continuidade histórica do grupo. Rogério Haesbaert (2004), ao discutir o conceito de “multiterritorialidade”, ajuda a compreender como diferentes dimensões simbólicas se sobrepõem nesse contexto: o território da fé, da tradição, da memória e da luta por reconhecimento coexistem e se expressam na festa. Do ponto de vista econômico, a festa também assume papel estratégico na geração de renda local, por meio da comercialização de alimentos, produtos artesanais e realização de leilões. Essa dinâmica revela o que Santos (2006) chama de "uso do território por atores hegemônicos e contra-hegemônicos", uma vez que a comunidade ressignifica o uso do espaço festivo para além da fé, como forma de sustento e organização coletiva. Ainda que não institucionalizada como evento turístico, a festa apresenta traços que dialogam com o turismo cultural e religioso. Portanto, o estudo contribui para a valorização do patrimônio imaterial e para o reconhecimento das dinâmicas culturais presentes em comunidades rurais historicamente marginalizadas pelos discursos urbanos e hegemônicos. Analisar a festa é também um exercício de justiça espacial e de afirmação das múltiplas territorialidades que compõem o Brasil profundo. CONSIDERAÇÕES FINAIS As reflexões apresentadas ao longo deste artigo evidenciam que a Festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada na comunidade rural de Laranjão, em Glaucilândia/MG, ultrapassa o caráter exclusivamente religioso, assumindo papel central na construção da identidade coletiva, na preservação das memórias e no fortalecimento dos laços sociais entre os moradores. A festividade atua como um importante instrumento de resistência cultural, especialmente por se tratar de uma comunidade remanescente de quilombo, cuja história, tradições e práticas simbólicas ainda hoje são mantidas por meio das expressões de fé e devoção. A articulação entre memória, religiosidade e território permite compreender a festa como um elemento estruturante da vida comunitária, reafirmando pertencimentos, promovendo solidariedade e contribuindo para a valorização do patrimônio imaterial local. Assim, torna-se essencial reconhecer e registrar essas práticas, garantindo sua continuidade e fortalecendo políticas de preservação cultural voltadas às comunidades tradicionais."
    "modalidade" => "Comunicação Oral"
    "area_tematica" => "GT 55: GEOGRAFIA CULTURAL: RELIGIOSIDADE, GÊNERO E CIBERESPAÇO"
    "palavra_chave" => ", , , , "
    "idioma" => "Português"
    "arquivo" => "TRABALHO_COMPLETO_EV223_ID204_TB461_17092025130100.pdf"
    "created_at" => "2025-11-28 14:08:46"
    "updated_at" => null
    "ativo" => 1
    "autor_nome" => "WALQUÍRIA DA CRUZ ALMEIDA"
    "autor_nome_curto" => "WALQUÍRIA"
    "autor_email" => "wallcruzgeo@gmail.com"
    "autor_ies" => "UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS (UNIMONTES)"
    "autor_imagem" => ""
    "edicao_url" => "anais-do-xvi-encontro-nacional-de-pos-graduacao-e-pesquisa-em-geografia"
    "edicao_nome" => "Anais do XVI Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia"
    "edicao_evento" => "XVI Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia"
    "edicao_ano" => 2025
    "edicao_pasta" => "anais/enanpege/2025"
    "edicao_logo" => null
    "edicao_capa" => "692988483d31e_28112025083224.png"
    "data_publicacao" => "2025-11-28"
    "edicao_publicada_em" => "2025-11-27 15:13:16"
    "publicacao_id" => 79
    "publicacao_nome" => "Revista ENANPEGE"
    "publicacao_codigo" => "2175-8875"
    "tipo_codigo_id" => 1
    "tipo_codigo_nome" => "ISSN"
    "tipo_publicacao_id" => 1
    "tipo_publicacao_nome" => "ANAIS de Evento"
  ]
  #changes: []
  #casts: array:14 [
    "id" => "integer"
    "edicao_id" => "integer"
    "trabalho_id" => "integer"
    "inscrito_id" => "integer"
    "titulo" => "string"
    "resumo" => "string"
    "modalidade" => "string"
    "area_tematica" => "string"
    "palavra_chave" => "string"
    "idioma" => "string"
    "arquivo" => "string"
    "created_at" => "datetime"
    "updated_at" => "datetime"
    "ativo" => "boolean"
  ]
  #classCastCache: []
  #attributeCastCache: []
  #dates: []
  #dateFormat: null
  #appends: []
  #dispatchesEvents: []
  #observables: []
  #relations: []
  #touches: []
  +timestamps: false
  #hidden: []
  #visible: []
  +fillable: array:13 [
    0 => "edicao_id"
    1 => "trabalho_id"
    2 => "inscrito_id"
    3 => "titulo"
    4 => "resumo"
    5 => "modalidade"
    6 => "area_tematica"
    7 => "palavra_chave"
    8 => "idioma"
    9 => "arquivo"
    10 => "created_at"
    11 => "updated_at"
    12 => "ativo"
  ]
  #guarded: array:1 [
    0 => "*"
  ]
}
Publicado em 28 de novembro de 2025

Resumo

Toda festa representa um tempo e espaço singulares. Mais especificamente, ela marca um momento de ação coletiva, reunindo esforço e alegria em uma mesma ocasião. Em geral, a vivência da festa revela a força de um grupo social unido. As manifestações religiosas sempre despenharam um papel fundamental na construção simbólica dos territórios e na configuração das identidades coletivas. Neste contexto, falaremos sobre a Festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada anualmente no mês de outubro, na comunidade rural de Laranjão, localizada no município de Glaucilândia, norte de Minas Gerais. A festa em homenagem à padroeira Nossa Senhora Aparecida configura como o evento mais importante para os moradores locais, realizada há mais de 60 anos, sendo um momento de encontro das famílias, de comercializações, cavalgadas, celebração e reafirmação dos laços comunitários. A justificativa para este estudo reside na necessidade de valorizar e compreender as práticas culturais e religiosas que estruturam a vida social em comunidades rurais, muitas vezes invisíveis pelos discursos urbanos e hegemônicos sobre o território. Como afirma Santos (2006), o espaço é um produto social, carregado de intencionalidades e práticas que refletem o modo como os grupos se organizam e resistem. É perceber o Lugar e investigá-lo, é realizar alguns apontamentos sobre a importância do Lugar como substância/matéria invisível capaz de fornecer subsídios ao homem para que esse possa construir e se sentir. Nesse sentido, Tuan (1983) destaca que “o espaço se torna lugar à medida que é vivido e carregado de significados afetivos”. A Festa de Nossa Senhora Aparecida contribui significativamente para a construção da identidade coletiva dos moradores da comunidade de Laranjão ao reforçar vínculos históricos, culturais e religiosos que conectam os indivíduos à sua comunidade e ao território que ocupam. Ao reunir diferentes gerações em torno de práticas tradicionais, a festa fortalece o sentimento de pertencimento e dá continuidade a valores compartilhados, consolidando a memória e a fé como elementos fundadores da identidade local. Ao manter viva a tradição, mesmo diante das transformações sociais e econômicas, a comunidade reafirma sua existência e protagonismo. Nesse processo, a memória coletiva assume um papel fundamental, pois ela sustenta a continuidade das práticas, transmite ensinamentos e experiências entre gerações e atualiza constantemente os significados atribuídos à festa, garantindo sua relevância enquanto expressão viva do patrimônio imaterial da comunidade. O objetivo deste artigo é analisar o papel da festa na manutenção das tradições culturais e religiosas locais; investigar como a celebração contribui para a coesão social e para o fortalecimento da identidade coletiva; e refletir sobre os impactos sociais e econômicos gerados pela realização do evento no contexto da comunidade rural, considerando suas relações com o território e com os processos históricos de resistência cultural. A comunidade de Laranjão é uma localidade remanescente de quilombola composta, majoritariamente, por famílias agricultoras. Seus primeiros habitantes formaram-se a partir de descendentes de populações negras que ocuparam a região, mantendo tradições e práticas culturais ligadas à ancestralidade quilombola. Segundo Arruti (2006), as comunidades quilombolas são expressões de resistência histórica e cultural das populações negras no Brasil, configurando-se como territórios de reprodução de saberes, práticas e vínculos identitários. Foi somente por volta da década de 1950 que chegou à comunidade as primeiras famílias não quilombola – a família Pereira da Cruz, Vieira e Cotas. A Família Pereira da Cruz foi a responsável por iniciar o processo de transformação no território, com a doação dos terrenos para a construção da igreja, da praça e da escola, além de introduzir as festividades marianas na localidade. A comunidade possui aproximadamente cinquenta famílias, que mantêm vínculos históricos, culturais e religiosos fortemente enraizados no território. Neste artigo, destacaremos duas importantes práticas religiosas da comunidade: a Festa de Nossa Senhora Aparecida e a Festa de São José. A Festa de Nossa Senhora Aparecida é realizada anualmente no 3º domingo de outubro, período consagrado à padroeira do Brasil no calendário católico. A organização do evento ocorre de forma colaborativa, envolvendo moradores da comunidade, lideranças locais, membros da igreja e devotos de comunidades vizinhas. A Festa de São José acontece no 2º domingo de maio, com novenas e leilões que antecedem o dia do Padroeiro. Essa prática coletiva fortalece os laços de solidariedade e pertencimento, consolidando-se como um marco no calendário cultural e religioso do município de Glaucilândia. Como observa Nascimento (2009), a religiosidade popular nas comunidades negras e quilombolas articula fé, identidade e resistência, funcionando como um eixo estruturante da vida comunitária. Segundo os moradores, a Festa de Nossa Senhora Aparecida acontece há aproximadamente 60 anos, e a Festa de São José há 30 anos. A moradora Maria de Fátima afirma que, a partir de 2023, a diocese trocou o padroeiro da comunidade para São José, ficando Nossa Senhora como co-padroeira. A realização da festa mobiliza diferentes espaços e instituições, como a comunidade religiosa, as associações comunitárias e grupos de moradores que colaboram na organização, decoração dos espaços, preparação dos alimentos, cavalgadas e execução das celebrações. Ao longo dos anos, a festa consolidou-se não apenas como uma expressão da devoção mariana, mas também como um importante instrumento de fortalecimento da identidade local, preservação das tradições culturais da região e geração de renda para os moradores, por meio da comercialização de produtos durante o evento. METODOLOGIA A realização deste estudo baseou-se em uma abordagem qualitativa, com procedimentos metodológicos pautados na observação participante durante os dias de preparação e realização da festa em 2024. Além disso, foram realizadas entrevistas informais com moradores, organizadores e frequentadores do evento, buscando captar percepções sobre a importância da celebração para a comunidade. Complementarmente, utilizou-se o registro fotográfico para documentação das práticas religiosas e culturais desenvolvidas. Também foi realizado um levantamento bibliográfico sobre as relações entre territorialidade, religiosidade e identidade cultural, tomando como referência autores como Rogério Haesbaert (2004), Paul Claval (2002) e Milton Santos (2006), bem como documentos locais que tratam da história da comunidade e de suas manifestações culturais. RESULTADOS E DISCUSSÃO A análise da Festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada na comunidade rural de Laranjão, evidencia a centralidade da religiosidade popular como elemento estruturante da vida social, cultural e simbólica em territórios marcados por tradições comunitárias e vínculos históricos. A festa, mais do que uma manifestação devocional, representa uma prática social complexa que articula memória, identidade e pertencimento, conforme argumenta Milton Santos (2006), ao afirmar que o espaço é indissociável das relações sociais que nele se produzem. Os dados obtidos por meio da observação participante e das entrevistas com moradores indicam que a festividade é vivida como um marco temporal e afetivo fundamental para a coletividade. A transmissão de saberes intergeracionais, visível nas práticas do “roubo” da bandeira, nas novenas, nas cavalgadas e na partilha de alimentos, revela o que Paul Claval (2002) descreve como o papel simbólico e emocional das festas na estruturação da vida social e cultural dos grupos humanos. A presença significativa de descendentes de quilombolas na comunidade confere à festa um caráter de resistência cultural, que reafirma a ancestralidade negra e o sentido de continuidade histórica do grupo. Rogério Haesbaert (2004), ao discutir o conceito de “multiterritorialidade”, ajuda a compreender como diferentes dimensões simbólicas se sobrepõem nesse contexto: o território da fé, da tradição, da memória e da luta por reconhecimento coexistem e se expressam na festa. Do ponto de vista econômico, a festa também assume papel estratégico na geração de renda local, por meio da comercialização de alimentos, produtos artesanais e realização de leilões. Essa dinâmica revela o que Santos (2006) chama de "uso do território por atores hegemônicos e contra-hegemônicos", uma vez que a comunidade ressignifica o uso do espaço festivo para além da fé, como forma de sustento e organização coletiva. Ainda que não institucionalizada como evento turístico, a festa apresenta traços que dialogam com o turismo cultural e religioso. Portanto, o estudo contribui para a valorização do patrimônio imaterial e para o reconhecimento das dinâmicas culturais presentes em comunidades rurais historicamente marginalizadas pelos discursos urbanos e hegemônicos. Analisar a festa é também um exercício de justiça espacial e de afirmação das múltiplas territorialidades que compõem o Brasil profundo. CONSIDERAÇÕES FINAIS As reflexões apresentadas ao longo deste artigo evidenciam que a Festa de Nossa Senhora Aparecida, realizada na comunidade rural de Laranjão, em Glaucilândia/MG, ultrapassa o caráter exclusivamente religioso, assumindo papel central na construção da identidade coletiva, na preservação das memórias e no fortalecimento dos laços sociais entre os moradores. A festividade atua como um importante instrumento de resistência cultural, especialmente por se tratar de uma comunidade remanescente de quilombo, cuja história, tradições e práticas simbólicas ainda hoje são mantidas por meio das expressões de fé e devoção. A articulação entre memória, religiosidade e território permite compreender a festa como um elemento estruturante da vida comunitária, reafirmando pertencimentos, promovendo solidariedade e contribuindo para a valorização do patrimônio imaterial local. Assim, torna-se essencial reconhecer e registrar essas práticas, garantindo sua continuidade e fortalecendo políticas de preservação cultural voltadas às comunidades tradicionais.

Compartilhe:

Visualização do Artigo


Deixe um comentário

Precisamos validar o formulário.