O FILÓSOFO HÚNGARO GYöRGY LUKÁCS (1885-1971), FOI SEM SOMBRA DE DÚVIDAS UM
DOS MAIORES PENSADORES E INTELECTUAIS MARXISTAS DO SÉCULO XX. SUA VASTA OBRA, DESDE OS
ESCRITOS LITERÁRIOS, ESTÉTICOS, PERPASSANDO OS DE CUNHO POLÍTICO-REVOLUCIONÁRIO ATÉ AS DE
PERSPECTIVA TEÓRICO-FILOSÓFICAS, ALÉM DE INFLUENCIAR GERAÇÕES DE NÃO-MARXISTAS, MARXISTAS
E DOS DENOMINADOS PÓS-MARXISTAS, DEMONSTRAM TAMBÉM A TRANSIÇÃO FILOSÓFICO-PRÁTICA NA
VIDA DO AUTOR. TODAVIA, ASSIM COMO FREDERICO (2013) E MÉSZÁROS (2013) FIZERAM, É
NECESSÁRIO OBSERVAR QUE NÃO SE TRATA DE UMA RUPTURA ENTRE UM LUKÁCS JOVEM E UM
MADURO, VISTO QUE SUA OBRA PÓS-IDEALISTA CARREGA CONSIGO “A MESMA ESTRUTURA DE
PENSAMENTO, EMBORA ELE TENHA GENUINAMENTE DEIXADO PARA TRÁS SEUS POSICIONAMENTOS
ORIGINAIS” (MÉSZÁROS, 2013. P.33).
DESTE MODO, TEMOS OS ESCRITOS COMO “A FORMA DO DRAMA” (1906), “A ALMA E AS
FORMAS” (1911), A TEORIA DO ROMANCE (1916), OBRAS COM FORTES INFLUÊNCIAS DE UM
IDEALISMO SUBJETIVISTA KANTIANO EM TRANSIÇÃO PARA O IDEALISMO OBJETIVO DE HEGEL,
PERPASSANDO POR ESCRITOS COMO TÁTICA E ÉTICA (1919) E HISTÓRIA E CONSCIÊNCIA DE CLASSE
(1923), OBRAS DE CUNHO MARXISTA, MAS COM FORTES INFLUÊNCIAS IDEALISTAS HEGELIANAS;
LENIN: UM ESTUDO SOBRE A UNIDADE DE SEU PENSAMENTO (1924; 2012) E MOSES HESS E O
PROBLEMA DA DIALÉTICA IDEALISTA (1926), OBRAS QUE SEGUNDO NETTO (2013) E VEDDA (2012)
MARCAM A TRANSIÇÃO PARA UMA VIRADA AO MATERIALISMO HISTÓRICO E DIALÉTICO, AO REALISMO
ONTOLÓGICO CULMINANDO EM OBRAS COMO A DESTRUIÇÃO DA RAZÃO (1953), A ESTÉTICA (1963),
INTRODUÇÃO A UMA ESTÉTICA MARXISTA (1978) E PARA UMA ONTOLOGIA DO SER SOCIAL QUE
SEGUNDO NETTO (2012) FOI CONCLUÍDA POR VOLTA DE 1968 E COM PRIMEIRA PUBLICAÇÃO EM
HÚNGARO EM 1976.
NO CAMPO DO MARXISMO EM ESPECÍFICO, ESSAS DUAS ÚLTIMAS OBRAS SÃO A GRANDE
CONTRIBUIÇÃO NO PLANO TEÓRICO-FILOSÓFICO AO RENASCIMENTO DO MARXISMO POR PARTE DE
LUKÁCS. PARA ALÉM DO MARXISMO, A DIVERSIDADE DE SUA OBRA TEVE INFLUÊNCIA EM VÁRIOS
CAMPOS DO CONHECIMENTO COMO NA LITERATURA, CRÍTICA LITERÁRIA, ARQUITETURA, TEATRO, NAS
ARTES E REFLEXÕES ESTÉTICAS EM SUA AMPLITUDE, NA FILOSOFIA, NA HISTÓRIA, NA SOCIOLOGIA, NAS
CIÊNCIAS SOCIAIS E MESMO NA GEOGRAFIA.
NESTA ÚLTIMA, AS REFLEXÕES DE MARX, LUKÁCS E DIVERSOS MARXISTAS FORAM
INCORPORADAS EM GRANDE PARTE, A PARTIR DE UM VIÉS ESTRUTURALISTA MUITO PRESENTE NA
GEOGRAFIA OU MESMO LEITURAS DE UM MARX TERCEIRIZADO. É BEM COMUM A LEITURA DE UM
MARX EM RETALHOS, CHEIO DE CORTES EPISTEMOLÓGICOS E NARRATIVAS SUBJETIVISTAS QUE CHEGAM
A REPRODUZIR UM “MARX KANTIANO,” LEITURAS DE UM MARX PELO VIÉS DE HEGEL, TUDO
LEGITIMADO PELAS “MÁGICAS EPISTEMOLÓGICAS”.
1 AS REFLEXÕES DESSE ARTIGO SÃO FRUTOS DO GRUPO DE PESQUISA E ESTUDOS DENOMINADO GEOGRAFIA DO
TRABALHO E ONTOLOGIA DO SER SOCIAL: A ESSÊNCIA DA RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA – GTOSS VINCULADO
AOS GRUPOS DE PESQUISA DO CNPQ.
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PROFESSOR ADJUNTO DO CURSO DE GEOGRAFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO -
UNIVASF, ATILAGEOHIS@GMAIL.COM; ATILA.LIMA@UNIVASF.EDU.BR
DE LUKÁCS OS ESTUDOS DESENVOLVIDOS NA GEOGRAFIA FORAM PAUTADOS, SOBRETUDO, NO
DEBATE DA ONTOLOGIA DO TRABALHO. PARA LUKÁCS (2013), O TRABALHO ASSUME O PAPEL TANTO DE
PÔR TELEOLÓGICO COMO MODELO DA PRÁXIS SOCIAL, SENDO ESTE CONFORME O AUTOR (P.64) A
FORMA ORIGINÁRIA DA PRÁXIS. A PERSPECTIVA DO TRABALHO É DESSA FORMA ESSENCIAL PARA A
GEOGRAFIA, VISTO SER À ATIVIDADE DE MEDIAÇÃO FUNDANTE-PRIMEIRA NA RELAÇÃO SOCIEDADENATUREZA E, PORTANTO, NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO. NO ENTANTO, AS REFLEXÕES NA GEOGRAFIA, QUE
TEM COMO OBJETO O ESPAÇO GEOGRÁFICO OU A ORGANIZAÇÃO ESPACIAL DA SOCIEDADE, TÊM COMO
PREDOMINÂNCIA ANALÍTICA CONFORME LIMA (2015), A TÉCNICA COMO VIÉS DE EXPLICAÇÃO DO
MESMO. EXISTE CERTA SUBJULGAÇÃO DO TRABALHO, UMA INVERSÃO QUE TEM COMO RESULTADO
UMA FETICHIZAÇÃO DA TÉCNICA E MESMO DO ESPAÇO. POR INFLUÊNCIAS DA FENOMENOLOGIA, DO
EXISTENCIALISMO E DO RELATIVISMO, EMBASADAS NAS REFLEXÕES NA EUROPA, TEMOS A CRIAÇÃO
DA ONTOLOGIA DO ESPAÇO QUE É DEFENDIDA FORTEMENTE NA CIÊNCIA GEOGRÁFICA. TEMOS ASSIM,
O EMBATE DA ONTOLOGIA DO TRABALHO X A ONTOLOGIA DO ESPAÇO.
A GRANDE QUESTÃO É QUE, PARA ALÉM DO DEBATE SOBRE O TRABALHO, A OBRA DE LUKÁCS
PODE CONTRIBUIR COM VÁRIOS ESTUDOS QUE COMPLEMENTAM AS QUESTÕES GEOGRÁFICAS. A
PERSPECTIVA DA ONTOLOGIA INORGÂNICA DA NATUREZA, DA ONTOLOGIA ORGÂNICA E DO SER SOCIAL,
SUA CONCEPÇÃO MATERIALISTA DA NATUREZA, A RELAÇÃO TELEOLOGIAS, CAUSALIDADES E
CASUALIDADES, DOS SALTOS ONTOLÓGICOS, ASSIM COMO A COMPREENSÃO DO COMPLEXO DE
COMPLEXOS NOS TRAZEM POSSIBILIDADES DE SUPERAÇÃO DA SEPARAÇÃO REALIZADA POR CORTES
EPISTEMOLÓGICOS ENTRE GEOGRAFIA FÍSICA E HUMANA E DA ADOÇÃO DE MÉTODO E METODOLOGIAS
NÃO MECANICISTAS. O ESTUDO DA CATEGORIA DA PARTICULARIDADE EM SUA DIALÉTICA COM O
UNIVERSAL E O SINGULAR NOS PERMITE ULTRAPASSAR TANTO AS REFLEXÕES GENERALISTAS-ABSTRATAS,
ASSIM COMO O HIPER-SINGULARISMO EMPIRISTA QUE PERMEIAM A GEOGRAFIA. O DEBATE DAS
CATEGORIAS DA REPRODUÇÃO SOCIAL, DA IDEOLOGIA E DO ESTRANHAMENTO-ALIENAÇÃO EM SUAS
RELAÇÕES COM O TRABALHO SÃO FUNDANTES PARA A COMPREENSÃO DO COTIDIANO, CATEGORIA
TAMBÉM DEBATIDA POR LUKÁCS E SÃO ESSENCIAIS PARA A APREENSÃO DA PRODUÇÃO-REPRODUÇÃO
DO ESPAÇO GEOGRÁFICO, DA SUPERAÇÃO DA GEOGRAFIA DAS ESTRUTURAS E PRESA AO VIÉS DA
CIRCULAÇÃO COMO SE ESTA FOSSE DISSOCIADA DA PRODUÇÃO. ALÉM DO MAIS, SUA PERSPECTIVA
ONTOGENÉTICA E HISTÓRICO-SISTEMÁTICA PODEM CONTRIBUIR DE FORMA INCOMENSURÁVEL PARA
QUESTÕES DE MÉTODO NA GEOGRAFIA.
NESTE SENTINDO, ESSE ESTUDO INICIAL NA FORMA DE ENSAIO, OBJETIVA COMPREENDER E
ESTABELECER MEDIAÇÕES ENTRE OS ASPECTOS TEÓRICOS GERAIS DA OBRA DE LUKÁCS PARA A
APREENSÃO GEOGRÁFICA E CONSEQUENTEMENTE APROFUNDAR O DEBATE TEÓRICO-METODOLÓGICO
DESSA CIÊNCIA. OS ESTUDOS DA OBRA DESSE AUTOR É FUNDAMENTAL, E JUSTIFICA A NECESSIDADE DE
PESQUISAS QUE POSSAM PROPORCIONAR CONTRIBUIÇÕES PARA A GEOGRAFIA NO INTUITO DE
SUPERAÇÃO DO LEGADO GNOSIOLÓGICO KANTIANO NESSA CIÊNCIA, E DE UM APROFUNDAMENTO DA
CONTRIBUIÇÃO DA PERSPECTIVA MARXISTA, DO MATERIALISMO HISTÓRICO E DO MOVIMENTO
DIALÉTICO DA REALIDADE