MULHER NEGRA LÉSBICA TEM UMA HISTÓRIA? POR EU SER NEGRA E LÉSBICA, SOU (LIDA) MULHER? ESSES SÃO OS QUESTIONAMENTOS QUE EVOCARAM A ESCRITA DESSE ARTIGO, UMA VEZ QUE AINDA NO SÉCULO XXI, MESMO COM OS AVANÇOS DOS DIREITOS SOCIAIS (E HUMANOS), SER NEGRA LÉSBICA AINDA É UM DESAFIO BASTANTE ÁRDUO E HÁ UMA ESCASSEZ DE DISCUSSÕES ABORDANDO TAL TEMA. É PERCEPTÍVEL, TAMBÉM, QUE FALAR SOBRE LÉSBICAS NA LITERATURA, PRINCIPALMENTE, QUANDO O FATOR RACIAL ESTÁ ENVOLVIDO, AINDA É UM TABU. SABE-SE QUE SOCIEDADES OCIDENTAIS PÓS-COLONIZADAS TEM COMO ELEMENTOS ESTRUTURANTES O RACISMO, O CAPITALISMO E O CISHETEROPATRIARCADO (GONZALEZ, 1983; DAVIS, 2006, AKOTIRENE SANTOS, 2019), DE MODO QUE PERFIS FEMININOS QUE “FOGEM” AO PADRÃO HEGEMÔNICO, POR SUA VEZ, HISTORICAMENTE, ASSOCIADO A UMA FEMINILIDADE BRANCA E HETEROSSEXUAL, SÃO SUBALTERNIZADOS AO PONTO DE SEREM DESCARACTERIZADOS ENQUANTO POSSIBILIDADES DE EXISTÊNCIAS FEMININAS. ISTO É, NA MEDIDA EM QUE UM ÚNICO PERFIL FEMININO, MUITO BEM DELIMITADO POR ESSES ELEMENTOS ESTRUTURANTES DESSAS SOCIEDADES, É AMPLAMENTE DIFUNDIDO COMO ÚNICA POSSIBILIDADE DE “SER MULHER”, HÁ, EM VISTA DISSO, A CONCEPÇÃO DE QUE “SER MULHER” É UMA EXPERIÊNCIA UNIVERSAL, EMBORA SEJA ORIENTADA POR UM PADRÃO HEGEMÔNICO DE FEMINILIDADE BRANCA E HETEROSSEXUAL. PORTANTO, HÁ UMA CONSTRUÇÃO DE ESTEREÓTIPO EM TORNO DA MULHER NEGRA LÉSBICA LEVANDO-A, NO IMAGINÁRIO SOCIAL, À CONDIÇÃO DE NÃO-HUMANA, A QUAL EXCLUI MULHERES NEGRAS LÉSBICAS DO CONCEITO DA UNIVERSALIDADE. NESSE TEXTO, ATRAVÉS DA ANÁLISE DO CONTO ISALTINA CAMPO BELO, DA ESCRITORA CONCEIÇÃO EVARISTO, NO LIVRO INSUBMISSAS LÁGRIMAS DE MULHERES (2011), TRAGO UMA DISCUSSÃO SOBRE COMO A INVISIBILIDADE DA NEGRA LÉSBICA NA LITERATURA E DE COMO A HETERONORMATIVIDADE (FUNDAMENTADA NA) CULTURA EUROCÊNTRICA AFETAM NO PROCESSO DE DESCOBERTA DE IDENTIDADE DA MULHER NEGRA LÉSBICA, ENVOLVENDO, TAMBÉM, O CONTEXTO RACIAL, GÊNERO E CLASSE. O DEBATE FEITO AQUI CENTRA-SE NA AGENDA DE TRABALHO DO FEMINISMO NEGRO (GONZALEZ, 1983; BAIRROS, 1995; COLLINS, 2000; CARNEIRO, 2005; DAVIS, 2006, ENTRE OUTRAS), CUJA FERRAMENTA TEÓRICO-METODOLÓGICA É A INTERSECCIONALIDADE, HAJA VISTA QUE SE PROPÕE A INVESTIGAR O INTERCRUZAMENTO DO RACISMO, DO CISHETEROPATRIARCADO E DO CAPITALISMO, COMO ELEMENTOS ESTRUTURANTES DE SOCIEDADES (CRENSHAW, 2019, AKOTIRENTE, 2019). SENDO ASSIM, HÁ AQUI A INTENÇÃO DE ACIONAR DISCUSSÕES RELACIONADAS À RAÇA (RACIALIZAÇÃO) E À SEXUALIDADE (LESBIANIDADE), ATRAVÉS DO PRECONCEITO INTRÍNSECO NA SOCIEDADE, PARA COM SUJEITOS QUE APRESENTAM ESSES MARCADORES IDENTITÁRIOS, COM VISTAS A SALIENTAR OS MOTIVOS DESSE GRUPO SOFRER COM A INVISIBILIDADE E SILENCIAMENTO NOS MEIOS SOCIAIS E LITERÁRIOS. A LITERATURA TEM UM PAPEL IMPORTANTE NA SOCIEDADE PARA CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL, NA MEDIDA EM QUE ORA REITERA, ORA DESCONSTRÓI ESTEREÓTIPOS, POR ISSO É ATRAVÉS DELA QUE CRIAMOS ESTEREÓTIPOS, OPRESSÃO, SEGREGAÇÃO, EM ESPECIFICO, O RACISMO E A LÉSBOFOBIA. PORTANTO, A ANÁLISE FEITA NESSE ARTIGO É NECESSÁRIA PARA PENSAR E REFLETIR O PORQUÊ DE NÓS, MULHERES NEGRAS LÉSBICAS, NÃO TERMOS ESPAÇO PARA NOSSAS NARRATIVAS NO CAMPO LITERÁRIO. SABEMOS O QUÃO PERIGOSA A INVISIBILIDADE PODE SER PARA OS CORPOS MARGINALIZADOS, POIS ACABAM LEGITIMANDO AS VIOLÊNCIAS CONSTASTES NO DIA A DIA. ATRAVÉS DESSA REVISÃO TEÓRICA PODEREMOS VER A IMPORTÂNCIA DA LUTA CONSTANTE DESSAS MULHERES SÃO IMPORTANTES PARA QUE SEJAMOS OUVIDAS, CONSEQUENTEMENTE, LIVRES.