O presente artigo versa sobre os projetos em Educação Histórica desenvolvidos em uma escola da rede pública cearense, entre os anos de 2010 a 2018, e sua finalidade comum de desenvolver uma ruptura paradigmática na cultura histórica escolar vigente. Julgo necessário a divulgação desses trabalhos a partir da premissa de Gauthier et al (1998) e de Monteiro (2007), de que os saberes integradores da ação pedagógica (neste caso, a do Ensino de História) só são mobilizados diante da ação-reflexão-ação e publicização das práticas de ensino e de aprendizagem histórica, pois desta forma podem formar outros professores e contribuir com a formação educacional de outros estudantes. O objetivo geral que norteia a escrita do texto é problematizar as experiências dos projetos em Educação Histórica desenvolvidos em uma escola de Ensino Médio e as possibilidades deles de construir uma cultura histórica escolar de ensino com pesquisa, com criticidade e autonomia para a aprendizagem histórica dos discentes. O estudo está inscrito nas perspectiva teórico-epistemológica da Hermenêutica crítica-dialética (ESTEBAN, 2010) e teórico-metodologicamente situado na pesquisa-ação e na investigação-intervenção da Educação Histórica (BARCA, 2001a; 2009). As categorias centrais são em sua maioria compostas das competências históricas de segunda ordem (BARCA, 2009): a aprendizagem histórica mobilizada (ou consciência histórica), de tipo crítico-genética, nos termos de Rüsen (2011a); narrativa histórica (RUSEN, 2011b); explicação histórica (BARCA, 2001b); empatia histórica (ASHBY, 2003); evidência histórica (LEE,2003), educação museológico-histórica (NAKOU, 2004) e a dialética ensino-pesquisa (MASETTO, 2010). Os projetos em Educação Histórica são desenvolvidos em paralelo com as dinâmicas do currículo real, em ressignificação do currículo prescrito, por meio de aulas-oficinas (BARCA, 2004), intra e extraclasse, ao longo de dois a três bimestres escolares. Os projetos intraclasse são realizados ao longo dos 3 anos do Ensino Médio, sendo um para cada série. Com os alunos de 1º ano, são realizadas no 1º bimestre letivo oficinas sobre conceitos e análises de fontes históricas, cujo objetivo é a produção de um estudo sobre História local, por meio das fontes orais e imagéticas. Com os alunos do 2º ano, é realizado entre o 1º ao 3º bimestre o projeto "Construindo um museu histórico", em que os alunos, ao longo de aulas-oficinas, aprendem os princípios da educação museológico-histórica, projetam por meio da pesquisa histórica e constroem uma exposição museológica aplicando os conteúdos estudados na série, aplicando os princípios da problematização e articulação dos objetos, fabricados ou ressignificados por eles; no 3º ano é realizado o projeto "Construindo um personagem histórico", entre o 2º e o 3º bimestre, em que os alunos exercitam a criação de personagens verossímeis, por meio de pesquisas históricas com fontes variadas, aplicando os conteúdos estudados na série, e exercitando o diálogo entre História, Cinema, Literatura e Redação, uma vez que os estudantes constituem aspectos físicos, psicológicos, sociais e econômicos de pessoas no passado, aperfeiçoando sua empatia histórica e criam uma narrativa histórica, exercitando esta competência histórica junto à explicação histórica. Outros dois projetos em Educação Histórica são realizados extraclasse, com participantes concomitantes das 3 séries da escola: o "Aulas em Humanidades Avançadas", iniciativa minha e de outros colegas de História e Filosofia no intuito de uma diversificação curricular (organizado em dois cursos, História; Filosofia) e encampada como projeto de extensão do Laboratório de Ensino e Aprendizagem Histórica do Departamento de História da Universidade Federal do Ceará, com temáticas sobre análise de fontes históricas, cultura de debates, e temáticas da investigação histórica e filosófica, que visou, no caso do curso de História, desenvolver as competências históricas aqui conceituadas; e a participação na Olimpíada Nacional em História do Brasil, cujo curso de preparação para a olimpíada tem a mesma intenção do Aulas em Humanidades Avançadas no tocante à Educação Histórica, como a participação em si, através do contato com fontes históricas primárias e secundárias diversas, além da análise de situações-problema ajudam a desenvolver competências históricas de segunda ordem. Consideramos que todos estes projetos auxiliam na ruptura da cultura histórica escolar vigente, de aprendizado histórico por repetição, portanto passivo e não-crítico, reprodutor de narrativas e explicações; e que auxiliam a construir uma cultura histórica criativa e crítica, potencializadora da aprendizagem mediada e problematizada. Através de entrevistas, verificações de aprendizagem e observações de interações, percebe-se que cada projeto é potencialmente ressignificador da aprendizagem histórica, mas apenas a conjugação desses projetos, assim como a ressignificação das práticas de ensino de História, é que promove uma cultura de aprendizagem histórica escolar ativa e criadora. Palavras-chave: Cultura histórica escolar, Educação Histórica, aprendizagem histórica. Referências ASHBY, R. O conceito de evidência histórica: exigências curriculares e concepções de alunos. In: BARCA, I. (Org.). Educação histórica e museus. Braga: Universidade do Minho: Lusografe, 2003. p. 37-55. BARCA, I. 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(Coleção Fronteiras da Educação). LEE, P. Nós fabricamos carros e eles tinham que andar a pé: compreensão da vida no passado. In: BARCA, I. (Org.). Educação histórica e museus. Braga: Universidade do Minho: Lusografe, 2003. p. 19-36. MASETTO, M. T. O professor na hora da verdade: a prática docente no ensino superior. São Paulo: Avercamp, 2010. MONTEIRO, A. M. Professores de História: entre saberes e práticas. Rio de Janeiro: MauadX, 2007. NAKOU, I. Exploração do pensamento histórico dos jovens em ambiente de museu. In: BARCA, I. (Org.). Educação histórica e museus. Braga: Universidade do Minho: Lusografe, 2003. p. 59-82. RÜSEN, J. Aprendizado histórico. In: SCHMIDT, M. A.; BARCA, I.; MARTINS, E. R. (Org.). Jörn Rüsen e o ensino de História. Curitiba: UFPR, 2011a. p. 41-49. RÜSEN, J. Experiência, interpretação, orientação: as três dimensões da aprendizagem histórica. In: SCHMIDT, M. A.; BARCA, I.; MARTINS, E. R. (Org.). Jörn Rüsen e o ensino de História. Curitiba: UFPR, 2011b. pp 79-91.