O LEITOR-GEÓGRAFO: FORMAÇÃO LEITORA, HISTÓRIAS E MEMÓRIAS
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Este texto é um recorte da pesquisa de mestrado, intitulada “A ensolarada Itaparica: lugares e experiências nas crônicas de João Ubaldo Ribeiro” , desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Estudos Territoriais (Proet), Universidade do Estado da Bahia (UNEB), cujo objetivo principal foi compreender as narrativas do/no e sobre os lugares de Itaparica, e as experiências retratadas nas crônicas de João Ubaldo Ribeiro. A intencionalidade desta escrita consiste em apresentar histórias que compõem a minha trajetória de vida com os lugares de João Ubaldo Ribeiro, os lugares percorridos e as lembranças das aprendizagens que contribuíram para a construção do objeto da pesquisa, no âmbito dos percursos da escolarização e do processo de formação docente. A tessitura da escrita está ancorada na perspectiva do método (auto)biográfico e nos princípios da fenomenologia, valorizando a subjetividade e a experiência geográfica, entrelaçando narrativas de história de vida e reminiscências de formação leitora com as narrativas literárias que evocam memórias – individuais e coletivas – de quem escreve sobre si e sobre o outro, nessa construção interpretativo-compreensiva. Reverberam os momentos, encontros e as circunstâncias que demarcam a presença de literatura em minha vida e, sobretudo, a literatura de João Ubaldo Ribeiro. Desse modo destaco que o pesquisador inserido nessa metodologia narra suas experiências de leitura e os desdobramentos no ato formativo de pesquisa. Assim, ao conceber o sujeito que narra como protagonista das histórias contadas evidencia os atravessamentos das vivências leitoras demarcando travessias, deslocamentos entre lugares, possibilitando, desse modo, grafias de memórias sobre os modos como o objeto de investigação foi gestado. Meireles (2013, p. 58) assevera que [...] a pesquisa (auto)biográfica tem se tornando um importante método para pensar questões em torno da pessoa e de sua coletividade, desencadeando situações advindas de experiências individuais vinculadas, de algum modo, a uma experiência social. Assim, o ponto de partida de uma pesquisa (auto)biográfica é sempre a vida do sujeito, uma vida marcada por sucessivos processos inéditos de existência. Na construção desta escrita conduzo-me para a rememoração das experiências e vivências dos espaço-tempos da escolarização e da formação acadêmica, as quais contribuíram para a composição do geógrafo-leitor. Contemplo também memórias do geógrafo seduzido pelas narrativas de um escritor itaparicano que narra a vida, os lugares e as experiências das pessoas, situa o leitor e o estimula imageticamente a apreender os espaços vividos e narrados pelo cronista. As suas narrativas sobre os lugares de sua vida em Itaparica, transbordam significados e afetos, afloram em mim o sentimento do lugar vivido pelo escritor, ou seja, a partir do momento em que inicio a leitura de suas crônicas, sinto-me também pertencer a esses lugares. FORMAÇÃO LEITORA, MEMÓRIAS E NARRATIVAS Compreendendo que a leitura se faz necessária para refletir o homem e a terra, o conhecimento é o artefato construído subjetivamente e objetivamente pelo homem, pelas suas intencionalidades e inquietações, que se perpetua como arma em sua permaneça na terra. Nesse devir, fui aos poucos tendo o entendimento de que deveria aprender e refletir sobre o que estava lendo. Nesse recorte memorialístico da formação leitora, o primeiro livro que tive acesso foi “Clara dos Anjos” (Lima Barreto, 1995), este abriu um mundo entres os mundos, ressignificando e fortalecendo minha forma de ler e compreender o lugar a que pertencia. Sobre as obras de Lima Barreto, que se enquadra na fase Pré-Modernista da Literatura, Em todos os seus romances, percebe-se um traço autobiográfico: suas experiências aparecem transpostas em algumas personagens, principalmente negros e mestiços, que sofrem o preconceito racial. [...] Lima Barreto nos oferece um perfeito retrato dos subúrbios cariocas e de suas populações. (Nicola, 1993, p. 186). No âmbito da educação básica, a obra “Clara dos Anjos” (Lima Barreto, 1995), cuja narrativa discorre sobre a vida de uma jovem da periferia do estado do Rio de Janeiro, possibilitou-me sentir pertencimento ao meu lugar e fazer uma autorreflexão da minha existência no Subúrbio Ferroviário de Salvador, tendo em vista que “[...] a função da arte literária é dar visibilidade a experiências intimas, inclusive às de lugar [...] chama atenção para áreas de experiências que de outro modo passariam despercebidas”. (Tuan, 2013, p. 200). Nesse sentido, ao entrelaçar a geograficidade presente em Clara dos Anjos, tornou-se evidente a minha conexão com o meu lugar de vivência, tornou-se “[...] expressa a relação visceral homem-terra” (Marandola Junior; Oliveira, 2009, p. 494), sendo eu protagonista (personagem) da minha cotidianidade. Por esse princípio, destaco a importância da terceira geração de poesia para minha formação como cidadão, geógrafo, professor e pesquisador, por ter poesias que dialogam com dúvidas que estão em mim, sobre os fatos que atravessaram a formação cultural, política e social do Brasil e, assim, “[...] a imagem que a leitura do poema nos oferece faz-se verdadeiramente nossa. Enraíza-se em nós mesmos” (Bachelard, 1998, p. 7), permite uma autorreflexão como agente transformador do espaço e, também, como sujeito que estabelece lugaridade e territorialidade, a questionar, como Castro Alves, “donde vem? Aonde vai? Das naus errantes, quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?”. Essas naus constituíram em mim firmamentos, compreensões, autoconhecimento e identidade. Bachelard (1988, p. 6) aponta que: Essa tomada do ser pela poesia tem uma marca fenomenológica que não engana. A exuberância e a profundidade de um poema são sempre fenômenos da dupla: ressonância-repercussão. Parece que, por sua exuberância, o poema desperta profundezas em nós. A “imagem de mundo” (Sousa, 2015), que é construída pela visão que os poetas e escritores têm a partir dos seus lugares, pode ser examinada a partir dos lirismos e poéticas presentes no poema de Manuel bandeira , que possibilitaram o estímulo imagético sobre os fatos e espaços que integraram o movimento de 1922, e une os fios de um país em evolução cultural e que se inclina também à realidade vivida por um jovem em formação no Subúrbio Ferroviário de Salvador em busca de compreensões. Já no âmbito da formação docente, a identificação sobre a interface Literatura-Geografia, aflora no componente Comunicação e Informação, existia o interesse investigativo da professora, pois pesquisava a vida e obra de João Ubaldo Ribeiro. Assim, começo a correlacionar as “imagens de mundo” dos escritores com as minhas, começo a ver sob outra perspectiva as obras literárias e noto a partir daí suas geografias literárias, e suas geografias vividas. O contato com a Geografia de João Ubaldo Ribeiro foi mediante a afetividade que era revelada pelos olhos e gestos da professora e a partir do modo singular de revelar a geograficidade ubaldiana, pois nem todos tinham conhecimento do escritor, eu mesmo nunca tinha ouvido falar, nem de seus livros, crônicas e contos, mas ao mencionar como era composta a sua obra, começo a me interessar imediatamente. A partir do contato com a obra de Ubaldo, e de suas crônicas, cujo os enredos abordam sobre os cotidianos dos lugares da cidade de Itaparica, emerge o interesse em conhecer este lugar. Fui à Itaparica foi uma jornada para vivenciar os lugares e cotidianos tão vividamente descritos nas crônicas. 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CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir da contribuição dos estudos autobiográficos foi possível mobilizar memórias, vivências e percursos que possibilitaram a gestação do objeto de pesquisa, ao evocar a subjetividade, as histórias que demarcam o encontro com o mais ilustre filho da Ilha de Itaparica, evidenciando travessias, grafando lembranças sobre os modos como o objeto de investigação foi construído. Assim, mediante a essas perspectivas teórico-metodológicas, busquei apreender o modo como Ribeiro concebe, experimenta e narra as vivências nos lugares de Itaparica em suas crônicas. Rememorar uma trajetória de formação leitora marcada pela presença de João Ubaldo Ribeiro, possibilita (re)viver os caminhos trilhados e as situações experienciadas, ao mesmo tempo, referenciá-los e colocá-los em reflexão. E, nesse processo de narração, reflito sobre os percursos, as travessias e as decisões para ressignificar a minha condição no mundo e evidencio os caminhos que me levaram até aqui e que propuseram meios de pensar os espaços da vida e as experiências dos seres no mundo por meio dos textos literários." 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