Por uma investigação que não se detenha apenas à historicidade da língua, mas também do texto, este trabalho visa analisar um corpus constituído por 185 cartas pessoais escritas por pernambucanos durante os séculos XIX e XX. Para tanto, os principais pontos abordados neste estudo são: (i) a identificação dos elementos composicionais da carta pessoal em suas diferentes temáticas (amor, amigo e família); (ii) a reconstrução da performance das cartas; e (iii) a análise do uso do possessivo de segunda pessoa do singular na tessitura textual do gênero carta pessoal. Para tanto, recorremos ao aparato teórico-metodológico da Sociolinguística Histórica (CONDE SILVESTRE, 2007; HERNÁNDEZ-CAMPOY; SCHILLING, 2012); ao Modelo de Tradição Discursiva (KOCH, 1997; KABATEK, 2004; 2006; 2012; LONGHIN, 2014); e à Teoria de Poder e Solidariedade (BROWN; GILMAN, 1960). Os resultados deste estudo apontam para uma tradição cultural no que diz respeito aos elementos composicionais da carta pessoal herdado pela retórica clássica. Outro ponto é a inserção do possessivo "seu" com referência à segunda pessoa do singular em duelo com o "teu", presentes, principalmente, nas fórmulas de abertura e fechamento das cartas. Além disso, esta pesquisa identifica que o uso do possessivo "teu" está associado a uma relação mais íntima, em sua maioria, nas cartas de amor, enquanto o emprego da forma possessiva "seu" apresenta um caráter semântico multifuncional, o que facilita o emprego dessa forma tanto em uma relação simétrica quanto assimétrica, podendo ser aplicado em diferentes contextos comunicativos. Compreendemos, portanto, que a explicação e a realização da variabilidade "teu/seu" não está apenas na estrutura da língua, mas também está associada ao contexto de produção e à composição textual do gênero.