Entende-se por feminino genérico o uso de itens lexicais designativos de gênero social (em nomes e pronomes) marcados com morfemas femininos na identificação de grupos heterogêneos. Por exemplo, ao indexicalizar um grupo de pessoas identificado ou não, quando dizemos ‘elas’, em vez de a forma não marcada ‘eles’, estamos operando com o feminino genérico. Os estudos sobre linguagem não-binária no Brasil não têm incluído o feminino genérico como um de seus modos. Este trabalho é parte de uma pesquisa que o insere nesse tipo de discurso, já que o efeito pragmático do feminino genérico não é construir sentidos sobre gênero para marcar a identidade de mulheres ou de pessoas femininas, mas funciona como um modo de ativação do estranhamento sobre a razão pela qual universalizamos o masculino gramatical em nossa língua e, com isso, se afasta da duonormatividade de gênero. O feminino genérico, com isso, marca o assombro e a crítica como efeito, promovendo um discurso queer de gênero. A esteira epistêmica desta comunicação é o trabalho de Judith Butler (2021) e sua analítica sobre o contrabando discursivo característico de manifestações queer. Neste trabalho, diante disso, apresento traços e possibilidades de uso do feminino genérico, tomando a não binariedade como performance constitutiva das identidades e forjada no discurso de todas as pessoas. Para tanto, apresento exemplos e busco problematizar o papel perlocutório desse fenômeno.