RECORTE TEMPORAL DE GOIÁS RURAL ENTRE AS DÉCADAS DE 1940 E 1950, NO CONTO “A ENXADA”, DE BERNARDO ÉLIS
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O trabalho busca compreender o como era o Estado de Goiás entre as décadas de 1940 a 1950. O objetivo principal da pesquisa é analisar e construir uma crítica a esse período, evidenciando aspectos como o trabalho manual e a violência retratada no espaço rural nesse período. A metodologia adotada consiste na análise qualitativa de base interpretativa, com apoio nos pressupostos da crítica literária e nos estudos culturais, além de referências à historiografia goiana que contextualizam o período abordado. As discussões apontam para uma narrativa engajada que, ao explorar a figura da enxada como símbolo ambivalente — ora instrumento de sobrevivência, ora signo de opressão —, revela as tensões do espaço rural. Os resultados indicam que Bernardo Élis propõe uma visão crítica e sensível do homem rural, situando seu conto entre os esforços literários de denúncia das desigualdades. 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Os coronéis detinham o controle da terra e da vida dos camponeses. No período retratado no conto “A enxada”, a terra em Goiás era o palco de opressão que se alimentava da desigualdade. O latifúndio é a estrutura fundamental dessa paisagem. As mãos dos trabalhadores eram esmagadas pela força da opressão, assim como as mãos de Piano, relatadas na obra, foram dilaceradas ao cavar o solo, misturando terra, carne, osso e sangue. Os coronéis eram detentores de vastas áreas de terra impondo um sistema de relações patrimoniais que eram a continuação das práticas coloniais. A escravidão, embora oficialmente extinta, continuava e continua (em alguns casos) a se manifestar nas relações de trabalho no espaço rural. A morte de Piano é similar à morte de sem-terras e indígenas mortos pelo Brasil. Essa violência é parte de uma estrutura sistêmica que privilegia a concentração de terra, a exploração econômica e o silenciamento de vozes mais vulneráveis. 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No estudo de Borges (2016), o autor explica que a economia rural goiana, em seus moldes mais tradicionais, está estruturada por práticas de subsistência e trocas simples, nas quais os valores de mercado não predominam, e as relações de troca e de trabalho se dão em um plano de sociabilidade mais direta e pessoal. O conto “A enxada” é um retrato da luta diária de um homem do campo, onde o espaço rural se torna um elemento central da narrativa, em constante diálogo com o trabalho e as relações de troca. A troca simples, conceito abordado na tese de Borges (2016), é um conceito que aparece implicitamente no conto. A partir dessa perspectiva, a análise da obra de Bernardo Élis (1966), sob a perspectiva de Borges (2016), possibilita uma nova compreensão da representação literária do Goiás rural e suas particularidades socioeconômicas. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa realizada em torno do conto A enxada, de Bernardo Élis, com foco no Goiás rural das décadas de 1940 e 1950. Como resultado é possível afirmar que a literatura produzida por Bernardo Élis constitui uma literatura de denúncia às mazelas encontradas no espaço rural entre as décadas de 1940 a 1950. A pesquisa demonstrou que o conto analisado propõe uma crítica à estrutura agrária brasileira, configurando-se como ferramenta epistemológica para compreender as persistências e rupturas no espaço rural goiano. Palavras-chave: A enxada; Bernardo Élis, espaço rural de Goiás, literatura e geografia. REFERÊNCIAS BORGES, Júlio César P. Estado e políticas públicas: trilhos, estradas, fios e genes da modernização do território goiano. 2007. (Dissertação de Mestrado) – Iesa, 2007. BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Companhia das Letras, 1996. ÉLIS, Bernardo. A enxada. In: BERNARDO, Élis. Veranico de janeiro. Rio de Janeiro: José Olympio, 1966. MENDES, José. Geografia agrária e desenvolvimento rural. Brasília: Editora UnB, 2012. MITIDIERO, M. 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