Este artigo teve como objetivo realizar uma análise justaposta a fim de verificar aspectos convergentes e divergentes nas relações de gênero e étnico-raciais no cotidiano de jovens negras autodeclaradas. Para isso, elegemos as jovens negras, futuras pedagogas, como participantes da pesquisa para que dissessem quais estéticas produzem, quais modelos resistem, rejeitam ou anuem, suas histórias e experiências, nestes cenários pesquisados. Neste recorte de pesquisa, a análise foi realizada a partir da questão aberta (Houve ou há algum sentimento de desconforto em relação ao volume ou textura de seus cabelos?) e dos diálogos nos grupos focais – em duas instituições superiores em Moçambique e no Brasil, respectivamente localizadas em Cidade de Maputo e Salvador. Especificamente, buscou-se descrever como as participantes jovens se identificam quanto à aparência e como os estigmas de gênero e raça/cor as afetam. Para a análise e discussão dos dados, adotou-se a análise de conteúdo nos moldes sugeridos por Bardin (2009). Os resultados alcançados pela pesquisa indicaram que o mito da boa-aparência persiste, e, em diversas situações continuam a impor barreiras às jovens negras. No entanto, hoje, estas jovens tomam o seu pertencimento racial como um aliado, ressignificando o que outrora não lhes era tolerado: o culto ao corpo e aos cabelos. Assim, levando-se em consideração os cenários educativos pesquisados e seus respectivos repertórios culturais, constatou-se que as instituições educativas são espaços para a promoção de desconstrução de estigmas sobre corpo ou cabelos, de modo que as questões acerca de gênero e étnico-raciais devam compor os currículos pedagógicos a fim de conter e banir a toxidade intrusa de todas as formas de intolerância.